sábado, 15 de dezembro de 2012

O QUE QUEREM FAZER DOS PORTUGUESES?

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)


 Segundo o anunciado na imprensa, em Janeiro a electricidade vai aumentar 2,8% para os consumidores domésticos. Também o gás natural verá o seu custo agravado em 2,5%. Como será óbvio, tendo em conta que as Águas de Portugal preparam a fusão de várias empresas municipais, incluindo as Águas do Mondego, tudo indica que esta verticalização não será para bem dos consumidores e no futuro próximo teremos a água mais cara também.
Já sem falar no desemprego, numa altura em que os rendimentos das famílias descem vertiginosamente, com os cortes já realizados e outros que, a partir de Janeiro, com o novo Orçamento Geral do Estado (OGE), serão levados à prática é legítimo interrogar: que destino quer dar o Governo aos portugueses? Costumo olhar as reformas com algum cuidado de análise. Isto é, não gosto de criticar apenas porque é “politicamente correcto”, é giro e fica bem a qualquer “Maria vai com as outras”. A meu ver muitas delas são necessárias, o problema é que já deveriam ter sido encetadas há pelo menos uma década. Só para ser mais claro, entre outras, a lei do arrendamento, a lei laboral, a actualização predial, a reforma fiscal, a reorganização administrativa. Em completo contra senso, a toda a pressão, pela imposição da Troika, em apenas um ano tenta fazer-se o que não se fez em dez. E o mais grave é que é numa altura em que a maioria dos portugueses não estão em condições financeiras para poderem corresponder a esta reestruturação legislativa e social. Nestas circunstâncias o Governo surge como uma entidade odiosa que, sem olhar a meios, em vez de dar modos aos cidadãos para se organizarem, pura e simplesmente confisca sem tomar em conta as circunstâncias de cada um. Ora se levarmos em conta que estamos em democracia representativa –estamos, não estamos?-, que é o acto de, através de sufrágio, eleger uma pessoa ou um grupo para nos representar, e ao verificarmos que estes trabalhos exercidos por quem foi eleito por nós para nos defender nos está a conduzir à ruína colectiva, o que deveremos depreender? O que está a falhar? O sistema em si mesmo na forma, que permite laivos ditatoriais, ou na circunstância em que tolera que os seus dirigentes, tomados de espírito divino imperial, abusem do cargo para que foram escolhidos? E não vale a pena argumentar que andámos todos muitos anos a viver acima das nossas possibilidades. Ainda que tal premissa seja atendível e razoável, neste momento grave em que aumenta o suicídio, se amplifica cada vez mais a indigência e grassa a fome, não é compreensível para explicar a irracionalidade das medidas draconianas que, como guilhotina que cai sobre o pescoço do sentenciado à morte, sem julgamento se condenem milhões de pessoas à pobreza.
O exercício de derrubar todo um edifício para construir um novo no seu lugar é um modelo esgotado de um tempo abastado que passou. Ora, olhando a analogia, da mesma maneira, o Governo, sem olhar à recuperação social, está a fazer exactamente o mesmo: para construir uma sociedade nova, está a deixar morrer os mais velhos e, pelo ostracismo, a matar os mais novos.
E o Presidente da República, que também faz parte da democracia representativa, não faz nada? Veja-se a sua posição de, mesmo tendo dúvidas, promulgar o OGE e só depois, em fiscalização sucessiva, pedir ao Tribunal Constitucional que se pronuncie, segue a mesma linha de pensamento e destruidora de vidas de uma grande maioria de portugueses. Com o fundamento estafado do “soberano interesse do país”, por decreto, abandonam-se milhões de pessoas à sua sorte. O que é isto?

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