sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

LEIA O DESPERTAR...



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "A BAIXA TENTA AGUENTAR-SE", deixo também as crónicas "VASCO BERARDO E O SEU ACERVO";  "REFLEXÃO: O TEMPO E O ADVENTO; e ainda o texto "A CASA DO COMERCIANTE MUDA DE SEDE



A BAIXA TENTA AGUENTAR-SE

 São 16h00 da tarde do último Sábado natalício na Baixa. O tempo está ameno, outonal. Se não está propriamente um clima de calor, também não está desagradável. Praticamente, todas as lojas comerciais estão abertas ao público. Embora se note pouco movimento no interior dos estabelecimentos, nas ruas largas e estreitas, vêem-se alguns transeuntes, mas sem os tradicionais sacos de compras e tão desejados nesta época. Contrariamente a anos atrás, muitas lojas já ostentam nas montras as faixas “descontos” e “promoções” de 25 a 50 por cento. Mais que certo que os comerciantes, antecipando uma quadra muito fraca, estão a tentar realizar “caixa” para fazer face aos seus compromissos. Com alguns que falei é patente nos seus rostos sisudos uma enorme nuvem de preocupação.


Dou uma volta muito rápida pelo perímetro compreendido entre as Ruas Eduardo Coelho, Corvo, Louça e Praça 8 de Maio. Nestas artérias mais estranguladas e onde o sol só beijará o chão lá para a primavera, os transeuntes caminham a passo dolente, com as mãos nos bolsos e como a quererem escondê-las de tentações materiais. Param nas montras, miram um artigo ou outro, mas não entram. Reparei nas suas expressões faciais. Não se acolhem sorrisos. É como se todos, em grande maioria, carregassem uma cruz às costas. Só captei um ou outro rosto mais iluminado nos mais jovens. Na praça da Igreja de Santa Cruz, como um porto inglês de confluência entre chegadas e partidas, o movimento, talvez porque mais junto e de paragem, está mais animado, no entanto, os mesmos semblantes tristes mantêm-se. Junto ao Banco Espírito Santo, quem sabe à sombra desta magnitude espiritual, o Pai Natal, muito magrinho, coitadinho, sabe-se lá se pela longa viagem se para mostrar que o pai de todos os pais desta quadra também sofre as agruras desta vida, por intermediação da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, chegou há pouco a esta zona comercial e transportado num carro dos Bombeiros Voluntários. Num canto da esplanada do Café Santa Cruz, inserido nos “workshop’s” promovidos pela APBC, a face de uma criança sorri e ilumina-se mais com pinturas faciais.


Entro na Rua Visconde da Luz. O movimento de pessoas é maior aqui. Mais uma vez saliento a falta de sorrisos em quem passa. Reparo também que, provavelmente, mais de noventa por cento dos passageiros estão na casa dos “entas”, o que me faz pensar que a Baixa, a par do país, precisa de ter sangue novo. Verifico, por coincidência ou não, os visitantes destas ruas largas têm as mãos soltas, o que poderá dizer que se sentem mais livres, mais soltos, para uma possível compra.
Prossigo a minha marcha rápida, não tenho muito tempo, e estou agora a entrar na Rua Ferreira Borges. Não fosse uma tuna académica junto ao antigo Banco Pinto & Sotto Mayor, agora Millennium, que através dos seus risos orquestrados e da música mexida e convidativa para dançar, e a modorra de solidão seria igual. Felizmente que há sempre um ou vários músicos que se entregam à missão de alegrar estas artérias. E sigo em direcção ao Largo da Portagem. As esplanadas da Briosa, Montanha e dos congéneres estão repletas. Se é certo que ali é o “ponto g” da Baixa, onde o astro-rei, sem vergonha, acariciando e estimulando o solo e aquecendo as gentes sem pudor, num descarado envolvimento, se entrega com toda a plenitude, por outro lado, não será menos verdade que o facto de se juntarem muitos cafés acabam por funcionar muito bem e em proteção de todos.

 
E desço as escadas do Gato, onde, no espaço onde ruíram dois prédios em 2006, para irritação de uma senhora que conheço e como monumento ao “nem lá vou nem faço nada”, lá permanece, há cerca de um ano, um sobrado em madeira que seria para esplanada. No mínimo, perante esta obra “emperrada”, pede-se à Câmara Municipal celeridade na decisão. Ou licencia ou manda retirar. Assim, neste limbo de sofrimento para o proponente e para a tal senhora, é que, a bem do bom senso e do princípio da prontidão, não pode continuar. E entro na Praça do Comércio. Apesar da anunciada promessa camarária de substituir os decrépitos pontos de venda dos vendedores de artesanato por modernos quiosques tudo continua na mesma. A comentar com os meus botões interrogo a razão de tudo o que sai da casa do paço, na Praça 8 de Maio –e não é um problema recente, sempre foi assim- é a passo de caracol. É como se, quem decide, tenha de pensar uma vez, outra e mais outra. E quando está mesmo já decidido a decidir, tenha de voltar atrás e, em solilóquio, interrogar-se: “ será que estou certo?”
E nestes interlúdios de estados de alma a Baixa, através de várias iniciativas, com a APBC à frente, como se mareasse num oceano tempestuoso, tenta equilibrar-se a todo o custo para não sucumbir a estas ondas alterosas que a querem fazer submergir.


VASCO BERARDO E O SEU ACERVO

 Há cerca de três semanas, num convite que muito me honrou, fui contactado pela esposa de Vasco Berardo, Manuela, para opinar sobre a extensa coleção de arte vária do marido, porventura um dos maiores pintores de artes plásticas vivos de Coimbra. A obra deste multifacetado artista, que vai desde a escultura em bronze e madeira, cerâmica, azulejaria, pintura, tapeçaria, até aos metais, está espalhada pela cidade, pelo distrito, pelo país e pelo mundo.
A última vez que tinha estado em casa da família teria sido há cerca de uma década. Já nessa altura, lembro-me perfeitamente, fiquei estupefacto com o multidisciplinar acervo do Vasco. Mas agora, perante a plêiade de objetos que me era dado a contemplar, não pude evitar um ai de espanto! Numa casa que faz inveja a muitos museus, construída propositadamente para expor o imenso espólio, em vários armários, eu tinha à minha frente a maior coletânea de estatuária de Coimbra, escultura em barro, proveniente de todo o século XX e saídas das mãos aveludadas de artistas já desaparecidos como António Vitorino e Teixeira Lopes e outros grandes barristas da Industrial Decorativa, Nova Decorativa de Coimbra, Estatuária de Coimbra, Viúva Alfredo de Oliveira e fábricas Berardos, esta cuja fundação, em princípios da década de 1980, foi pertença do Vasco. Para além de todas as paredes da casa estarem forradas com obras do autor, eram visíveis quadros de outros grandes pintores como José Contente, Fausto Gonçalves e Américo Dinis. Grandes vitrinas, nas salas laterais, estavam repletas de tudo o que é possível imaginar na arte ornamental, nacional e estrangeira.
Como é do conhecimento público o Vasco está doente. Por esse facto um grupo de amigos deste enorme artista conimbricense, há cerca de um mês e meio, juntou-se e prestou-lhe uma sentida homenagem no Centro Cultural D. Dinis.


Perante o oceano de cultura que se estendia perante os meus olhos, perguntei ao Berardo e à Manuela o que tencionavam fazer de tanta memória viva de um tempo industrial e cultural que a cidade perdeu. Respondeu o Vasco: “a melhor coisa que me poderia acontecer nesta vida era poder manter num museu toda esta riqueza. Já viu aquele meu ajuntamento de medalhas que produzi ao longo de 60 anos? Olhe ali aquele quadro que pintei ainda frequentava a escola primária. Aqui, nestas obras expostas, está toda a minha existência. Toda a minha alma. Adorava partir desta vida e saber que esta minha reunião de objetos se manteria indivisível, em vez de ser espartilhado. Claro que não posso doar, mas até estaria de acordo em estabelecer um plano que me fosse atribuída uma pequena verba mensal. Não pretendo com isto um absoluto ressarcimento, mas pelo menos uma pequena parte. Sabe, para adquirir muitas peças que estão perante os seus olhos, deixei muitas vezes de comprar outras coisas que necessitava.”
Com autorização da família Berardo, há duas semanas, mais exatamente em 3 do corrente, apresentei-me na reunião pública do executivo municipal e, naquele órgão, apresentei o desejo do nosso grande artista polifacetado e multidimensional na mais sublime criação do homem. Pelo presidente da Câmara Municipal, Barbosa de Melo, foi dito que tendo em conta que já subsistia uma situação parecida com o Museu Municipal do Chiado, e em que existia um acordo entre o cedente e a edilidade, no entanto, do ponto de vista jurídico, parecia-lhe, haver dúvidas quanto à sua legalidade. Era certo que aquele contrato do Chiado, foi há cerca de 15 anos e nos nossos dias já havia outra legislação para estes efeitos. Claro que se o pintor quisesse doar toda a sua obra isso já seria diferente, embora também com algumas condições. Apesar disso, disse o edil, a senhora vereadora da Cultura certamente se iria debruçar sobre o assunto.
Pela vereadora da Cultura, Maria José Azevedo, foi afirmado que tem acompanhado muito de perto a doença do Vasco e até está programada uma exposição, proximamente, na Casa da Cultura. Disse também desconhecer, porque não lhe disseram nada, que o artista tencionava alienar a sua coleção de arte. Reiterou ainda que os artistas na cidade são muito bem acarinhados por todos. Por exemplo, o Vasco Berardo tem obras em muitas casas de Coimbra. “Quem não conhece o painel de azulejos do desaparecido Mandarim? Todos conhecem o Vasco”, enfatizou. Mas que o assunto iria ser encaminhado e que, aproveitando a minha disponibilidade, todos juntos iríamos avaliar o espólio do artista e depois se decidiria. Ficamos todos a aguardar que estas palavras sejam levadas à prática.


REFLEXÃO: O TEMPO E ADVENTO

 Embora não seja muito ligado às questões da Igreja, naturalmente que tento acompanhar. Sei que nesta altura se celebra o “Tempo do Advento”. É o primeiro tempo do ano litúrgico, o qual antecede o Natal.  “Para os cristãos, é um tempo de preparação e alegria, de expectativa, onde os fiéis, esperando o Nascimento de Jesus Cristo vivem o arrependimento e promovem a fraternidade e a Paz. No calendário religioso este tempo corresponde às quatro semanas que antecedem o Natal.”
Nestes tempos difíceis para todos, e mais propriamente para os comerciantes, gostaria de deixar uma mensagem de esperança. Tal como os cristãos acreditam na vinda do Senhor, do Salvador, tenhamos fé de que, neste mar encapelado, nestes dias de noites longas, a bonança há-de chegar. Não percamos o azimute que nos indica o norte: a esperança.


CASA DO COMERCIANTE MUDA DE SEDE

 Há cerca de mês e meio contava aqui que a “Casa do Comerciante vai arrancar”. Nessa edição de O Despertar de 1 de novembro plasmava que a futura sede seria numa loja do Mercado Municipal, a B-25, cedida pela Câmara Municipal de Coimbra em regime de comodato, a título de uso gratuito, pelo prazo de 5 anos, prorrogável. Dizia também que os estatutos da “Casa do Comerciante da Cidade de Coimbra” (CCCC) estavam prontos para escritura pública e promulgação e, por isso mesmo, a “comissão instaladora” iria encetar um peditório para as despesas iniciais que orçariam mais de 600 euros. Na semana seguinte, durante vários dias, todos os membros correram muitas lojas da Baixa e realizaram a verba de 756 euros.
Chegados aqui, perguntará o leitor: “então, se é assim, há sede, há estatutos, há dinheiro, estão à espera de quê?”. Vou contar: entendeu o novo vereador dos mercados, José Belo, que, em vez de uma pequena loja meia “atarracada”, já que a autarquia estava em dívida com os comerciantes, se deveria apostar em algo mais substancial. Pedia que lhe dessem uma semana para arranjar um espaço mais de acordo com as nossas ambições –lembro que esta promessa da edilidade consignar um terreno para a construção da CCCC já vem desde 2002 em compensação pela construção do Fórum Coimbra. Esta cedência de uma sede não esgota a obrigação, é apenas uma fase transitória, já que, pelo menos nesta fase, jamais poderíamos ir para a construção de um edifício. “Estranho!”, pensa você chegado aqui. Deixe lá que não está sozinho. Na altura pensei o mesmo. Mas a verdade é que o novo vereador cumpriu escrupulosamente. Passada uma semana estava a mostrar-nos umas instalações maiores, com várias salas independentes e que, a seu ver, serviriam melhor os nossos desígnios. Embora em mau estado de conservação, por parte da “comissão instaladora” presente, foi unânime de que, de facto, nos serviam melhor. Ficam situadas no cimo do mercado e com entrada pela Rua Corpo de Deus. Como estavam muito velhas, foi prometido que tão rápido quanto possível seriam recuperadas e, no máximo até ao fim de janeiro, do próximo ano, nos seriam entregues juntamente com a identidade predial. Segundo uma fonte ligada a José Belo, na próxima segunda-feira o assunto será levado a sessão de Câmara para aprovação. Portanto, a ser assim, e tudo leva a crer que assim será, durante o primeiro mês do novo ano, já com todas as formalidades reunidas, avançaremos para a prossecução do nosso objetivo comum.






2 comentários:

Ana Margarida disse...

Caro Sr. Luís Fernandes
Ao pesquisar na net sobre a fábrica que foi do meu avô, Francisco Caetano Ferreira, a "Moderna Insdistrial Decorativa (1941-1949), deparei-me com o seu blog e o que escreveu sobre o sr. Vasco Berardo e a sua coleção de peças de cerâmica e pintura.
O meu bisavô foi canteiro e escultor (1885-1945), e eu ando neste momento a fazer pesquisas sobre a sua obra.
Será que no acervo do sr. Berardo se poderá encontrar alguma peça do meu bisavô, Alberto Caetano?
Ou até alguma peça da Moderna Industrial Decorativa?
As minha saudações
Ana Margarida Caetano

LUIS FERNANDES disse...

Quase de certeza que vai encontrar peças da Moderna Industrial Decorativa. contacte-me para choupalapa@sapo.pt e dou-lhe algumas informações.
Abraço.