sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

LEIA AQUI O DESPERTAR


LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA

Para além do "Eldorado da nossa Recordação", deixo também dois textos que escrevi e que pode ler lá também:

REFLEXÃO: PARA ONDE VAIS, MERCADOR?

A semana passada um comerciante da Baixa perdeu o que representa, para qualquer um de nós, o resguardo da prole, o universo emocional, a base material de uma vida de trabalho: a sua habitação. Perante o incumprimento financeiro a entidade bancária de pouco lhe importou que este homem, agora a entrar na velhice, tenha iniciado a labuta ainda criança como marçano. Nos últimos três anos, mais de meia dúzia de mercadores estabelecidos no Centro Histórico, nas mesmas circunstâncias, aconteceu-lhes o mesmo. Actualmente, pelo que sei, mais cinco estão no fio da navalha e prontos a cair no mesmo abismo negro da miséria –lembro que numa iniquidade sem nome, numa discriminação sem igual, os comerciantes não têm direito a subsídio de desemprego. Basta lembrar que um qualquer sem-abrigo que não tenha contribuído minimamente para a riqueza nacional, para além de ter direito a RSI, Rendimento Social de Inserção, terá logo várias associações a monitorizá-lo e a levar-lhe alimentação. E, sinceramente, escrevo isto a pensar em todos os que, pela infelicidade, caem na indigência, seja lá quem for. Nos nossos dias, a fronteira entre uma vida remediada e a indignidade é uma linha invisível. Porém, de uma vez por todas é preciso denunciar esta hipocrisia, esta vergonha e falta de respeito por quem deu tudo pelo desenvolvimento das cidades e do país. Na presunção de sempre abastados, e agora de pé-descalço, os comerciantes não podem ser abandonados à sua sorte e tratados como coisas imprestáveis, que quando já não têm utilidade são deitadas no contentor do lixo.
Tomemos atenção a esta civilização que estamos a criar. Num usar e deitar fora utilitarista, tritura nas suas entranhas os obreiros. Faz da máquina um ídolo, uma divindade, e, no fim, devora os seus próprios adoradores.

ANDA POR AÍ UMA BRASILEIRA BOA

 Tem 84 anos, mas, olhando para a sua face luzidia e marmórea, ninguém dirá. É certo que, nos últimos dois anos, sofreu várias plásticas. Começou na cobertura, veio pelo tronco abaixo, sem esquecer as protuberâncias mais salientes com implantes, e até a abertura em que todos anseiam penetrar está completamente rejuvenescida. Esta Brasileira está mesmo boa!
Nasceu em 1928. Como marafona de rua, no seu interior estiveram desde Vitorino Nemésio, António Aleixo, Paulo Quintela, Louzã Henriques, Adolfo Rocha (Torga), os irmãos Vilaça, até ao mais anónimo trabalhador. Quando há cerca de 20 anos abandonou a actividade a Baixa nunca mais foi a mesma.
Há dois anos que o Lúcio Borges, um empresário empenhado e o actual companheiro, goteja a estopinhas para a devolver aos seus clientes e à cidade. “Actualmente –diz-me- estou à espera da Certiel, Associação Certificadora de instalações Eléctricas. Tenho tudo pronto. Só depois desta autorização posso ir à Câmara Municipal. Conto em abrir a Brasileira durante o próximo mês de Fevereiro. Sei lá! Já sofri tantos adiamentos!”, enfatiza o Lúcio, enrugando a fronte e comprimindo os lábios, como se temesse desabafar o que lhe vai na alma.
Meu caro presidente Barbosa de Melo, por todos nós, a Baixa precisa desta Brasileira aberta com brevidade.

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