sábado, 26 de novembro de 2011

GENTE DA NOSSA RUA (5)


Há certas pessoas na cidade
que nunca deveriam morrer,
são símbolos de antiguidade,
luzes brilhantes no anoitecer,
património da humanidade,
dão-nos força para viver;

Passamos por elas uma vida,
achamos que sempre ali estiveram,
são marcos numa praça esquecida,
em gestos simples nos acolheram,
semáforos tricolores numa avenida,
nunca um sorriso nos mereceram;

Até que um dia, uma tarde qualquer,
por ali passamos novamente,
sentimos o nosso coração encolher,
falta uma peça naquele ambiente,
é como um luar de Agosto a chover,
uma tristeza nos invade docemente;

Só então damos conta da ingratidão,
de tanta injustiça que cometemos,
é bem certo que foi por distracção,
mas, repare-se, não desvalorizemos,
agora é preciso tomar mais atenção,
é uma pessoa com alma… olhemos!


 A Celeste Correia é moradora numa rua estreita da Baixa. E poderia ficar por aqui. Mas se não escrevesse mais nada estaria a ser injusto. A Celeste, a minha amiga Celeste, é um exemplo de vida para quem quiser ver. Apesar das muitas primaveras que já conta – penso que há volta de quatro dezenas, pelo menos é o que parece-, esta mulher-guerilheira-urbana levanta-se todos os dias às 5 horas da manhã para fazer limpezas. Trabalha que se farta para poder andar de cabeça erguida. E de que maneira?! Basta olhar para a sua esbelta figura. Mas, calma que ainda não disse tudo: esta princesa do trabalho e do sacrifício, que fará inveja às suas congéneres, escreve, lê livros e ainda tem tempo para estar no Facebook a comunicar com os seus intermináveis amigos. Para além de ser uma querida, é um exemplo de força anímica para todos. É de gente anónima como a Celeste -desempenhando uma qualquer função de representatividade pública, rindo da tristeza, chorando de alegria- que a imprensa deveria escrever e não escreve. São estes os nossos heróis que ninguém consolará nem reconhecerá jamais.

Sem comentários: