segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A FORÇA DA RAZÃO

(IMAGEM DA WEB)


 Ontem fui visitar um grande palácio, “ex libris” da nossa cultura e orgulho nacional. Não conhecia a jóia arquitectónica. Não vou identificá-lo. Mais à frente irei explicar porquê.
Éramos três pessoas. Reparei que tinha muito movimento. Na capela associada havia lá uma grande cerimónia religiosa. Para visitar a parte museológica era um vaivém de turistas estrangeiros a entrar e a sair.
Chegamo-nos ao balcão, onde estavam dois funcionários, e interroguei um deles acerca de quanto tempo demorava a visitar o palácio e quanto custava o ingresso. Respondeu que levaria o tempo de 40 minutos e o preço de entrada era de 7 euros. Adquirimos os três bilhetes. Mais à frente um outro funcionário, com uma cara que desafiava soco, barrava-nos o caminho. Colocou mesmo o braço à nossa frente até nos cortar o bilhete –quando encontro pessoas assim carrancudas, dirigindo-se-lhe, costumo sempre proceder da seguinte forma: “desculpe, sou vendedor de sorrisos. Já vi que você precisa de um…”. E a pessoa, logo ali, abre o rosto completamente. Foi o que aconteceu com o tal servidor do Estado que não pode evitar sorrir.
Entrámos nos claustros e reparámos que estava então em marcha uma procissão católica onde estavam altos dignitários da Igreja e que se dirigia à capela. Fomos andando, parando aqui e acolá, e prendendo os olhos nas pedras feitas renda de bilros. Quando íamos para entrar numa sala onde está um túmulo de uma reputada figura ilustre fomos impedidos por uma senhora, certamente funcionária, e, mais uma vez, com cara de pau, de poucos amigos, informou-nos secamente: “não podem entrar aqui, nem ali, nem no andar de cima, porque, devido à cerimónia, e sempre que as houver, o acesso é negado. E virou-nos as costas. De pouco valeu eu argumentar que estava errado aquele procedimento. Lá na sua pose majestática, deixou-me a falar sozinho. Naturalmente que fiquei mais bruto que o “Zé da Onça”, que quando bebe uns tintos, fica esquinado e bate na mulher Etelvina.
Resumindo, a viagem cultural de visita que deveria levar o tempo de 40 minutos demorou apenas 10. Cheguei cá fora, novamente ao balcão de entrada, e pedi o livro de reclamações –reparei que na parede, em grande plano, lá estava a placa a informar que havia o livro… “para servi-lo melhor”.
O funcionário, ainda novo, talvez porque visse que agora era eu que estava com cara de “façanhudo”, tratou de se curvar e procurar o exemplar. Abriu uma gaveta, abriu outra. Remexeu nuns cadernos, mexeu numas folhas, e nada de Livro de Reclamações. Virou-se para a colega e interrogou: “viste o livro?” –e ela respondeu que não. Se calhar estaria lá para dentro para outra secção, argumentou, ao mesmo tempo que dava umas chaves ao colega. E o homem foi.
Enquanto eu retirava o Bilhete de Identidade da carteira e pensava que talvez o livro aparecesse, o tempo foi passando. E o funcionário, com cara de aflito, veio da secção, mas sem livro. Meio atrapalhado, sem saber como descalçar a bota, lá foi dizendo: “será que o senhor poderá vir cá 3ª feira?”. Respondi que não. Era de Coimbra. Lembrei-lhe que era obrigatório ter o livro ali mesmo para, em caso de necessidade, ser usado. A mulher tinha no rosto um meio sorriso de dominação, assim como quem diz: “olha para este a armar-se aos bimbos!”
Só então, talvez perante aquele problema bicudo, ele e a colega me perguntaram a razão da minha reclamação. E ali verberei na cara deles o meu azedume. Disse-lhes que estavam a cometer uma fraude. Ou seja, vendiam um serviço que, depois lá dentro, se verificava estar aquém do preço cobrado. Tudo estaria bem se avisassem de que nesse dia havia uma cerimónia e, como tal, haveria espaços que não poderiam ser visitados. Ou então, nestes dias, por razão, o preço deveria ser na metade. Ora não foi o caso que se passou comigo e com as minhas acompanhantes. Ninguém nos avisou.
Reparei que a mulher subitamente perdeu o sorriso sarcástico. Quanto ao funcionário mais novo, um pouco branco, desfez-se em desculpas –que aceitei- e disse peremptoriamente que eu tinha razão. Disse ainda que, perante os meus argumentos sérios e avalizados, anularia os bilhetes e me devolveria o dinheiro. E foi o que fez. Ali mesmo, perante a humildade do homem, retorqui que o assunto estava arrumado. E está mesmo. Por isso mesmo não identifico o monumento.
Poderá perguntar o leitor, se eu não reclamo porque estou a escrever? Por um motivo de grande importância: só reclamando da lesão dos nossos direitos poderemos mudar o que está mal. Bem sei que custa. As pessoas à nossa volta olham para nós assim como se olha para um comunista, mas não importa. Temos de ser capazes de quebrar as barreiras situacionistas implantadas. Queremos uma sociedade mais justa? Então façamos o mínimo para a mudança.


1 comentário:

Pedro Paiva disse...

Caro Luís, resolveu o problema, mas não eliminou a causa.
Não dou muito tempo para que ocorra situação semelhante.
Talvez ficar escrito não tivesse sido pior! Na minha humilde opinião, claro!
Abraço!