(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
“O
que nenhum membro presente na sessão referiu é que,
pelo
mesmo desastre causado pelo furacão, em Março,
último,
já nessa altura foi concedido um apoio de 150 mil euros
– e
também aprovado por unanimidade.”
Nesta
última sessão da Câmara Municipal de Coimbra, na segunda-feira,
foram aprovados por unanimidade dois projectos que me deixaram
a pensar, ou melhor, a interrogar-me se quem nos (des)governa e quem ajuda
na operação não andarão loucos.
A
primeira medida, proposta e defendida pelo vereador
eleito pela CDU, com o pelouro da habitação, Francisco Queirós,
dizia respeito à validação do “Programa Animarte 2019,
Reformulação do programa de actividades de animação cultural e
recreativa, direccionado aos munícipes inquilinos municipais”.
A verba aprovada não consegui perceber, mas, em defesa da
autorização municipal, referiu-se o edil comunista que era
importante para levar alguns inquilinos a ver o mar. Se assim não
fosse, muitos deles nunca se deslocariam para ver a imensidão.
Antes
de prosseguir, convém referir que, por
exemplo, o valor de uma renda respeitante a um T1
anda à volta
de pouco mais de 4
euros. Saliento
que, pela lei geral, como as rendas estão indexadas a um
montante nacional e aos
rendimentos auferidos pelos arrendatários os valores atribuídos
pela edilidade não
podem exceder o proporcional. O
valor do Indexante
dos Apoios Sociais (IAS) em 2019 é de 435,76€.
Tal como o nome indica, é este o valor que serve de base ao cálculo
das prestações sociais. Ou
seja, estamos num processo viciado. Como a importância das rendas
estão dependentes dos ganhos em sede de IRS, logicamente, é um forte incentivo a
que muitos não procurem trabalho e se mantenham na dependência
continuada do Estado.
A
segunda medida discutida na reunião tinha por objecto a aprovação
de um subsídio de 100 mil euros para apoiar a reconstrução do
Hospital da Beira, em Moçambique, que ficou afectado pelo ciclone
Idai. Segundo o Diário de Coimbra, “A comparticipação
financeira da autarquia, ontem aprovada por unanimidade, é
“exclusivamente para suportar encargos referentes à reconstrução
urgente” do hospital da cidade geminada com Coimbra desde 1997”.
O que nenhum membro
presente na sessão referiu é que, pelo mesmo desastre causado pelo
furacão, em Março, último, já nessa altura foi concedido um apoio
de 150 mil euros – e também aprovado por unanimidade.
Na
qualidade de munícipe interrogo: o que é que leva o executivo da
Câmara Municipal de Coimbra, neste caso concreto, a repetidamente financiar
projectos que já foram largamente apoiados pelo Governo português?
Na
minha qualidade de cidadão, pergunto: qual a razão de a comunicação
social, para além de não gastar uma linha a noticiar a verba para levar os inquilinos a ver o mar, não
questionar o facto da repetição do apoio à ex-colónia portuguesa? Bom, digo eu, mais que certo é por não ser
importante levar este assunto ao conhecimento público.
É
certo que, sobretudo a partir de 2013 e sobre gerência socialista,
os cofres camarários sempre estiveram abertos com milhões para
acudir a tudo o que for associação cultural, eventos ligados a uma
denominada cultura – foi a forma encontrada para calar o “cagão de Coimbra” -, iniciativas loucas, feiras de rua,
Feira Cultural de Coimbra
(cerca de 350 mil euros), subsídio para pagamento
de entradas na
Feira Popular (cerca de 75 mil
euros), festa de Fim de Ano
(salvo erro, cerca de 200 mil
euros), Festas da Cidade – a
propósito alguém sabe os valores despendidos neste último Julho?
Alguém leu em algum lado a verba cabimentada? 500 mil? 600 mil? A
oposição com assento parlamentar preocupou-se em saber?
O
que me chateia
deveras é que para reparar o piso das
artérias da Baixa, trocar os
candeeiros públicos nas ruas estreitas, que se encontram obsoletos e
sebentos – mesmo depois de
reclamar para o portal “A minha Rua” todos continuam igualzinhos
-, restaurar muito edificado de
propriedade camarária abandonado na Baixa, aparentemente, para estas
necessidades prementes não
há disponibilidade financeira.
O
que aborrece até à exaustão é o facto de, tendo em conta o
momento aflitivo que o comércio local
atravessa, se continuar a
sobrecarregar os negociantes com taxas e taxinhas. Claro
que, para se isentar uns ter-se-á
de sobrecarregar outros, é a lei da vida!
Com
franqueza, o que me deixa algum consolo é que toda esta calculada
generosidade tem prazo de validade, não tardará muito que a
situação vai implodir. É
certo que quem vai pagar são os mesmo do costume, como quem diz, os
tansos, os simplórios, os totós como eu, mas, ora, ora, isso a
dividir por dez milhões de portugueses são trocos.
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