quarta-feira, 21 de agosto de 2019

EDITORIAL: UM DIA DESTES A TETA VAI SECAR (DEUS QUEIRA QUE SEJA AMANHÃ!)

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)






O que nenhum membro presente na sessão referiu é que,
pelo mesmo desastre causado pelo furacão, em Março,
último, já nessa altura foi concedido um apoio de 150 mil euros
e também aprovado por unanimidade.”



Nesta última sessão da Câmara Municipal de Coimbra, na segunda-feira, foram aprovados por unanimidade dois projectos que me deixaram a pensar, ou melhor, a interrogar-me se quem nos (des)governa e quem ajuda na operação não andarão loucos.
A primeira medida, proposta e defendida pelo vereador eleito pela CDU, com o pelouro da habitação, Francisco Queirós, dizia respeito à validação do “Programa Animarte 2019, Reformulação do programa de actividades de animação cultural e recreativa, direccionado aos munícipes inquilinos municipais”. A verba aprovada não consegui perceber, mas, em defesa da autorização municipal, referiu-se o edil comunista que era importante para levar alguns inquilinos a ver o mar. Se assim não fosse, muitos deles nunca se deslocariam para ver a imensidão.
Antes de prosseguir, convém referir que, por exemplo, o valor de uma renda respeitante a um T1 anda à volta de pouco mais de 4 euros. Saliento que, pela lei geral, como as rendas estão indexadas a um montante nacional e aos rendimentos auferidos pelos arrendatários os valores atribuídos pela edilidade não podem exceder o proporcional. O valor do Indexante dos Apoios Sociais (IAS) em 2019 é de 435,76€. Tal como o nome indica, é este o valor que serve de base ao cálculo das prestações sociais. Ou seja, estamos num processo viciado. Como a importância das rendas estão dependentes dos ganhos em sede de IRS, logicamente, é um forte incentivo a que muitos não procurem trabalho e se mantenham na dependência continuada do Estado.
A segunda medida discutida na reunião tinha por objecto a aprovação de um subsídio de 100 mil euros para apoiar a reconstrução do Hospital da Beira, em Moçambique, que ficou afectado pelo ciclone Idai. Segundo o Diário de Coimbra, “A comparticipação financeira da autarquia, ontem aprovada por unanimidade, é “exclusivamente para suportar encargos referentes à reconstrução urgente” do hospital da cidade geminada com Coimbra desde 1997”.
O que nenhum membro presente na sessão referiu é que, pelo mesmo desastre causado pelo furacão, em Março, último, já nessa altura foi concedido um apoio de 150 mil euros – e também aprovado por unanimidade.
Na qualidade de munícipe interrogo: o que é que leva o executivo da Câmara Municipal de Coimbra, neste caso concreto, a repetidamente financiar projectos que já foram largamente apoiados pelo Governo português?
Na minha qualidade de cidadão, pergunto: qual a razão de a comunicação social, para além de não gastar uma linha a noticiar a verba para levar os inquilinos a ver o mar, não questionar o facto da repetição do apoio à ex-colónia portuguesa? Bom, digo eu, mais que certo é por não ser importante levar este assunto ao conhecimento público.
É certo que, sobretudo a partir de 2013 e sobre gerência socialista, os cofres camarários sempre estiveram abertos com milhões para acudir a tudo o que for associação cultural, eventos ligados a uma denominada cultura – foi a forma encontrada para calar o “cagão de Coimbra -, iniciativas loucas, feiras de rua, Feira Cultural de Coimbra (cerca de 350 mil euros), subsídio para pagamento de entradas na Feira Popular (cerca de 75 mil euros), festa de Fim de Ano (salvo erro, cerca de 200 mil euros), Festas da Cidade – a propósito alguém sabe os valores despendidos neste último Julho? Alguém leu em algum lado a verba cabimentada? 500 mil? 600 mil? A oposição com assento parlamentar preocupou-se em saber?
O que me chateia deveras é que para reparar o piso das artérias da Baixa, trocar os candeeiros públicos nas ruas estreitas, que se encontram obsoletos e sebentos – mesmo depois de reclamar para o portal “A minha Rua” todos continuam igualzinhos -, restaurar muito edificado de propriedade camarária abandonado na Baixa, aparentemente, para estas necessidades prementes não há disponibilidade financeira.
O que aborrece até à exaustão é o facto de, tendo em conta o momento aflitivo que o comércio local atravessa, se continuar a sobrecarregar os negociantes com taxas e taxinhas. Claro que, para se isentar uns ter-se-á de sobrecarregar outros, é a lei da vida!
Com franqueza, o que me deixa algum consolo é que toda esta calculada generosidade tem prazo de validade, não tardará muito que a situação vai implodir. É certo que quem vai pagar são os mesmo do costume, como quem diz, os tansos, os simplórios, os totós como eu, mas, ora, ora, isso a dividir por dez milhões de portugueses são trocos.

Sem comentários: