segunda-feira, 25 de julho de 2022

ANTEPROJECTO EM FORMA DE IDEIA COMPLEMENTAR AO NOVO MERCADO MUNICIPAL DA MEALHADA, APRESENTADO HOJE NO EXECUTIVO POR UM MUNÍCIPE

 



Exmº Senhor Presidente da Câmara Municipal de Mealhada


INTRODUÇÃO


NOVO MERCADO DA MEALHADA: SACO SEM FUNDO OU UMA OPORTUNIDADE?


Ao primeiro olhar a sua imponência volumétrica impõe-se e estranha-se. Por momentos, damos por nós a pensar que é um monstro de cimento a conspurcar a paisagem.

Damos uma volta, à sua volta, e a leveza da arquitectura paulatinamente entranha-se. Espreitamos através dos vidros e verificamos, com agrado, o seu arejamento saudável e complementado pela sua total exposição à luz solar e pouca dependência de energia eléctrica. Com mais uma circulatura em volta da área rectangular do edificado, estamos rendidos à sua beleza impressionista e moderna.

Aparentemente tudo parece pronto para cortar a fita da inauguração. Quer lá dentro do prédio, quer cá fora na área circundante, não se avista vivalma, como quem diz, qualquer operário a reparar seja o que for. Só o silêncio nos acompanha nesta empreitada de “espreita” e faz-nos sentir nefastos invasores de uma quietude quebrada.

No exterior, cerca de meia centena de lugares de estacionamento, e onde será realizada a feira semanal, esperam a sua ocupação.

No interior, com uma área coberta de aproximadamente 2000 m2, ao longo de toda a superfície visível pelo olhar, cerca de quatro dezenas de bancas individuais, apetrechadas com tudo do mais contemporâneo, para assegurar o asséptico, livre de germes, e a adivinhar o cheiro a novo, esperam os pequenos produtores do concelho. E também "com dois alinhamentos de bancadas fixas, permitindo a existência de 80 mesas de venda".

A Norte, a Sul, a Nascente e a Poente, em torno do palco de gentes, operadores e clientes que se adivinham, entre espaços administrativos, 16 lojas aguardam novos locatários.



ANTEPROJECTO EM FORMA DE IDEIA


I


António Luiz Fernandes Quintans, natural de Barrô, Luso, vem por este meio expor a V. Exª o seguinte:


1 - Em face do “imbróglio” gerado em volta do novo Mercado Municipal da Mealhada, em que com o edifício totalmente pronto, num obra adjudicada em cerca de três milhões de euros, aparentemente para que não se transforme em mais um “elefante branco” com custos incomensuráveis para os contribuintes, tudo indica parecer não se saber o que se fazer com o “monstro”;


2 - Assim sendo, em conformidade, na minha vontade de cooperar com o poder local adstrito à minha residência, tomo a liberdade de lhe apresentar uma ideia singular para preencher com originalidade todo o espaço coberto do novo Mercado Municipal. Um projecto que a ser levado à prática será, por ventura, o primeiro a ser implementado no país. Como referência, o mais parecido será o “Museu do Pão”, em Seia, já com uma vivência de mais de vinte anos.


II


MERCADO MUNICIPAL E CENTRO DE MESTERES ANTIGOS DA MEALHADA (ARTES & OFÍCIOS TRADICIONAIS)


3 – Chegados a este ponto, perguntará V. Ex.ª: afinal, em que consiste este anteprojecto? Pois bem, sem mais demora, apresento-lhe a ideia.


Em abstracção, imagine transpor a porta de uma moderna área comercial e deparar-se com uma vivência “retro”. Com pessoas a trabalharem vestidas à moda de um tempo recuado, onde o mobiliário era antigo, e até na forma de falar se empregasse o vocábulo “vossemecê”, “vossa mercê”.

Perante aquele museu vivo e interactivo, talvez V. Ex.ª deixasse cair o queixo com estrondo pela surpresa.



Pois bem, escrevo sobre um centro comercial, edificado em instalações modernas, virado para a contemporaneidade e, ao mesmo tempo, retratando cenas, usos e costumes de um passado não tão longínquo quanto isso.

Podendo interagir com a compra e venda do presente, pretende-se, acima de tudo, mostrar algumas profissões em vias de desaparecimento, ou já desaparecidas, a laborar interactivamente.

Paralelamente, junto a estes artesãos funcionaria uma parte museológica inactiva também respeitante a profissões já desaparecidas e outras temáticas – Mais à frente mostrarei a listagem para escolha.


4 – Antes de entrar em considerações mais profundas, embora o concelho detenha alguns museus, como sabe a cidade da Mealhada não possui nenhum. Ora, em face desta lacuna cultural, fará sentido pensar num projecto desta dimensão.


5 – A abrangência cultural que defendo para este projecto vai muito para além do local da sua implantação. Visa, sobretudo, a esfera e o alcance nacional – e por que não a internacionalização deste polo de manufactura e mecânico?

Na sua essência, pretende, como objecto, ser um museu vivo, uma estrutura de conhecimento do passado e para os nossos descendentes vindouros.

A ideia é ultrapassar a dimensão doméstica da cidade, dando-lhe uma projecção externa e mediática e explorá-la de uma forma pedagógica, abrindo-a à urbe, aos arredores, ao todo nacional, às escolas, permitindo aos alunos a sua experimentação e o conhecimento científico. Ou seja, transformar este Mercado Municipal e Centro de Mesteres Antigos (Artes & Ofícios Tradicionais) num polo de dinamização, de permuta de conhecimento, com trocas de experiências, e sobretudo permitir o enriquecimento da história do concelho através das suas profissões.

Tem ainda por ambição capitalizar futuros mecenas, assim como, também captar o espólio de coleccionadores de arte e de antiguidades em fim de vida.


III


6 – Como sabemos, para o bem e para o mal, nas cidades, a nível local e nacional, o espectro comercial tem sido invadido por grandes e médias superfícies comerciais modernas, levando ao progressivo desaparecimento de muitas lojas e ofícios tradicionais que fazem parte da nossa memória colectiva. Muito saber empírico, muita experiência adquirida que, se não houver sensibilidade social e política, inevitavelmente se irão perder. Então, tendo em conta que as cidades vão ficando mais desertificadas e que, a nível local, cada executivo autárquico terá de ser criativo, no sentido de trazer pessoas de outros lugares ao seu concelho, através de projectos originais.


7 – Aproveitando o já construído Mercado Municipal em fase de conclusão, juntando o útil prometido ao inovador agora apresentado, por que não juntar sinergias e abrir nas suas instalações um Centro de Mesteres Antigo, onde estariam representadas profissões já desaparecidas e outras em vias de extinção?

Assim como ilustrar a memória com estabelecimentos que só os mais velhos relembram, ou outros “ex-libris”, como exemplo, uma mercearia antiga (a funcionar) onde serão comercializados produtos endógenos, uma tasca antiga (a funcionar), um café/restaurante (a funcionar), um moinho de farinha (em representação figurativa), uma padaria onde se visse amassar o pão e a ser cozido no forno, o assar leitão ao vivo (a funcionar) com balcão para venda directa ao público.

Assim como, costureira-modista, relojoeiro, carpinteiro-marceneiro, barbeiro, construtor de instrumentos musicais, ceramista, arte do vime, alfaiate, ferro forjado (entre outras à escolha). Relembra-se que a nova praça tem 16 lojas.


8 – Estes pequenos estabelecimentos, em réplica o mais fiel possível, e algumas profissões estariam a funcionar, numa fase experimental, entre as 10 e as 19h00, de Segunda a Sexta-feira, e entre as 10 e as 22h00 ao Sábado e Domingo.

A montagem de adereços nas lojas, em principio, seria da responsabilidade dos agentes económicos sob tutela do pelouro da Cultura.


9 – Este parque temático funcionaria também como Escola de Artes & Ofícios Tradicionais. Com protocolo firmado entre instituições de ensino do género, CEARTE, por exemplo, relançar-se-iam workshops sobre várias profissões. Assim como outras áreas diversificadas: teatro, folclore, escutismo, carnaval performativo.


10 – várias profissões já desaparecidas, seriam representadas teatralmente ao Domingo no átrio da Praça Central, que seria no meio do salão, com diversos pregões a acompanhar.

Como amostra, entre muitos possíveis, o vendedor de banha da cobra, o amola-tesouras, o azeiteiro, o “pitrolino”, a leiteira, o vagabundo, o pedinte, o pastor, o ardina, a varina, a criada de servir, o fotógrafo “à la minute”, a prostituta, o paquete, o vendedor de gelados, o vendedor cigano de retalhos de pano.


11 – Assim como vários jogos tradicionais da nossa recordação: jogo do pião, jogo do pau, jogo do botão, gancheta de arco em ferro, volante de madeira, saltar à corda, atirar às latas, jogo da macaca, jogo dos rebuçados de feiras, cabra-cega, partir a bilha com venda, saltar ao cavalinho (mosca), jogo do saco, lencinho.


IV


12 – Deveria ser concessionada uma loja para velharias/antiguidades/alfarrabista.


13 – Deveria juntar-se os artesãos, floristas, outros pequenos vendedores, incluindo os de artigos da terra.


14 – Uma vez por mês, ao Domingo, deveria realizar-se uma feira de velharias, no Verão fora da zona coberta, no Inverno dentro.


15 – Recomenda-se que as futuras feiras de Artesanato e Gastronomia fossem realizadas na área envolvente a este Mercado Municipal.


16 – Não deve ser esquecida a vertente museológica relativa à água de Luso e aos centenários Refrigerantes Bussaco. Se possível, a área envolvente ao edificado, através de motores de sucção, poderia ser acompanhada de cascatas de água a correr.


17 – A ser levado a efeito um museu erótico, reservado a maiores de 16 anos, o acesso seria onerado.


18 – A cada mecenas doador de acervo museológico deveria ser dado o seu nome a uma sala durante um ano.


19 – Cada operador a laborar no novo mercado far-se-á inscrever na Autoridade Tributária como empresário em nome individual.


20 – A renda a pagar por todos os operadores deve ter um período de carência de um ano.


21 – Deverá ser levado em conta que há ofícios cujo saber é essencial transmitir aos vindouros, logo, por inerência, no seu ensino, não deverão ser onerados. Como exemplo: latoeiro, engraxador, cesteiro, sapateiro, arte em vime.


V


PERGUNTAS/RESPOSTAS


22 – P: como arranjar acervo para o pequeno museu inativo?

R: através de protocolo, com cedência de museus de Coimbra e de doações ou empréstimo de peças de propriedade particular.


23 - P: como seria apresentada a configuração do piso térreo?

R: seria diminuída a área ocupada com bancas e mesas.

No meio do salão seria criada uma praça em cujo centro estaria montado um carrossel da década de 1930/1940, que constituiria o “ex-libris” do empreendimento – este instrumento, provavelmente, único no país, seria cedido por mim a título gratuito durante cinco anos.



Em volta deste carrossel, na denominada praça central, actuariam os grupos de animação geral, folclore, teatro performativo, poesia, magia e outros.

VI



24 – Muito obrigado, senhor Presidente da Câmara Municipal, pelo tempo dispensado na consulta deste anteprojecto em forma de ideia.

Quero ressalvar que, ao apresentar este plano não pretendo acolher qualquer benefício. O que me move, dentro do espírito da cidadania activa, é poder contribuir para o engrandecimento do nosso concelho de Mealhada.


(em anexo algumas listagens de profissões em desaparecimento e vias de estar e fotografia do Carrossel antigo)

 ANEXO


PROFISSÕES EM VIAS DE DESAPARECIMENTO


- Afinador de pianos

-cerzideira

-Franjeira de Xailes

-Peruqueira

-Bordadeira

-Ajour

-Consertador de canetas

-Restaurador de cerâmica

-Técnico de Máquinas de escrever mecânicas

-Técnico de Máquinas de costura

-Vitralista

-Chapeleiro

-Resineiro

-Cauteleiro

-Ardina

-Amola-tesouras

-Datilógrafa

-Telefonista

-Azeiteiro

-Pitrolino

-Leiteiro(a)

-(Vagabundo)

-(Pedinte)

-Revolucionário

-Pastor

-Parteira

-Calceteiro

-Varina

-Onzeiro (espécie de agiota que emprestava dinheiro a juros de 11%)

-Albardeiro

-Ferrador

-Aguadeiro

-Moleiro

-Criada de servir

-Limpa-chaminés

-Fotógrafo “à la minute”                              

-(prostituta)

-Moço de fretes

-Paquete

-Carteiro

-Polícia sinaleiro

-Vendedor de Banha da Cobra

-Trapeiro

-Vendedeira de rendas

-Vendedeira de galinha e ovos

-Vendedor de castanhas assadas

-Vendedor de gelados

-Vendedor de corte de fato (cigano)

-Escamizada/apanha de azeitona/

-Caçador

-Paliteira (Penacova)

-Cigana a ler a sina

-A presciente da bola de cristal


ARTES


-Representação dos “Robertos”

-Carrinhos de rolamentos


JOGOS TRADICIONAIS


-Jogo do pau

-Pião

-jogo da malha/fito

-Jogo das moedas

-Jogo de cartas

-Jogo do botão

-Gancheta de arco em ferro

-Volante de madeira

-Saltar à corda

-Atirar às latas

-Dardos

-Jogo da Macaca

-Jogo da Roleta de rebuçados

-Fisga

-Cabra-cega

-Partir a Bilha com venda

-Saltar ao cavalinho (mosca)

-Jogo do Saco

-Jogo do lencinho

-Jogo do anel

-Jogo do prego



Com os melhores cumprimentos


Mealhada, 25 de Julho de 2022


(António Luís Fernandes Quintans)

 











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