(Foto de arquivo)
Em
analogia, nos deveres, morais e éticos, uma igreja deve estar para
os seus crentes acólitos como uma qualquer Loja do Cidadão para o
nascido ou naturalizado no país -sem desprezar outros, obviamente.
Ou seja, em ambos os casos, quem comanda deveria ter uma preocupação
permanente: estar sempre disponível para atender os necessitados.
Claro que há uma diferença abissal, se o religioso sentir a
frustração de, no mínimo, não ser ouvido no seu apelo, pode
sempre escolher outra paróquia. Já na Loja do Cidadão, se, por um
lado, o residente está limitado à sua área de circunscrição, por
outro, o tratamento processual caminha em linha única, isto é, as
directrizes são emanadas pela lei, e portanto, mudar de padeiro não
lhe vai garantir um pão de melhor qualidade.
E,
depois desta longa introdução, vou direitinho ao assunto que me
levou a escrever. O que se passa diariamente na Loja do Cidadão, no
Largo das Olarias, em Coimbra, só é admissível num país onde o
indivíduo económico, escasso em direitos e atolado em
deveres, apenas é visto como pagador de impostos. Estou em crer que
se não fosse o desvelado esforço da maioria de funcionários,
provavelmente, a PSP seria ali chamada todos dias só para manter a
ordem pública. É certo, também que esta nuvem que se abateu sobre
toda a comunidade chamada de Coronavírus acaba por amansar
mais facilmente o mais rebelde do que tivesse tomado três
ansiolíticos. Porventura, a maldita virose tem as costas largas e
tudo lhe encaixa e serve para desculpar o escárnio.
Antes
de prosseguir, convém lembrar que, excepto os da Área Metropolitana
de Lisboa que reabriram mais tarde, todos estes centros de
atendimento, embora condicionados, começaram a assistência nos
primeiros dias de Junho. Se nos primeiros tempos até se entendeu a
balbúrdia – porque, sendo justo, nenhum governo estaria preparado
para uma coisa destas -, custa a compreender como é que, marcando o
calendário o oitavo dia de Julho, por conseguinte, mais de um mês
depois, tudo continua igual – se não para pior.
Para
ser mais preciso, há dias fui para tratar de um assunto relativo ao
Cartão de Cidadão (IRN) e que exige marcação prévia através de
um número nacional e um número local. Ligava-se qualquer um deles e
ou dava sinal ocupado ou nem sequer emitia qualquer sinal. Agora
imagine o leitor tentar convencer a funcionária da triagem que o
sistema não estava a funcionar devidamente? Complicadíssimo. Só se
resolveu com a minha irritação -escusado será dizer que quando me
indigno, talvez por ser tomado de um espírito pouco assertivo que me
acompanha, sinto-me transformado em alguém que não reconheço. Na
maioria dos casos funciona sempre, isto por que a meu ver, alguns
indivíduos, envolvidos no seu ilusório poder majestático, estão
convencidos que qualquer cidadão é simplesmente (mais) uma ovelha
ro(a)nhosa que nem sequer tem coragem para lançar um grito de
resistência. Então, quando acontece comigo, o opressor, como não
está habituado, fica mais amarelo que o meu canário e, tantas vezes
que já assisti, nem sabe onde se enfiar. Neste caso em apreço,
acabou tudo em bem com a funcionária a pedir desculpa.
Hoje,
durante a tarde, voltei à Loja do Cidadão. Sobre um calor tórrido
na ordem dos trinta graus Celcius, algumas dezenas de pessoas (como
eu) mantinham-se a corar ao Sol, à espera de serem recebidos para
resolverem os seus assuntos.
Ainda
que provisoriamente, custaria muito colocar um toldo em toda a
extensão das portas de entrada?
Custaria
muito colocar umas cadeiras de plástico para os mais velhos,
incapacitados e doentes de ocasião se acomodarem?
É
certo que existe lá no Largo uma série de bancos em cimento, o
problema é que, por estarem tão distantes da zona de intervenção
dos funcionários, quem se sentar corre o risco de não ouvir a sua
chamada.
Vá-se
lá saber porquê, a Câmara Municipal de Coimbra e as Águas de
Coimbra (AC) não estão sujeitos a inscrição prévia. A coisa
desenrola-se assim: volta e meia, de cada um dos serviços, vem um
funcionário à rua e, gritando o mais alto que pode, interroga:
“está alguém para ser atendido?".
Tudo
corre bem se houver uma ou duas pessoas em espera, o problema é se
for meia-dúzia. Quem é o primeiro? Pergunta o trabalhador. E
à sua frente surgem seis braços em riste. Custaria muito a estas
duas entidades colocarem uma máquina de senhas, ainda que
provisoriamente, na via pública?
Vale
a pena perder uma hora, mesmo que a secar, para apreciar os
comportamentos sociais. Pode (des)aprender-se muito, até observar um
individuo a andar naturalmente pelo seu pé até às proximidades, de
repente salta para uma cadeira de rodas e aí vai ele transformado em
deficiente e corta a meta em primeiro.
Bem
sei que quem pode e manda não vai ligar nada ao que aqui relato, mas
gostava que o Estado, entidade abstracta e cujo número somos todos,
tivesse mais consideração pelo cidadão. A minha principal
preocupação é duvidar que o desgraçado vírus vá aguentar tanta
culpa e arcar com tanta desconsideração e falta de respeito.
Ah,
é verdade, fui muito bem atendido, sobretudo com muita simpatia,
pela funcionária das Águas de Coimbra.
1 comentário:
BEM VINDO LUIS,AS TUAS OPINIÕES AS TUAS CRITICAS AS TUAS OBSERVAÇÕES FAZEM FALTA,JÁ TINHA SAUDADES.
UM ABRAÇO H. RAMALHETE.
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