sábado, 17 de maio de 2008

QUANTO VALE UMA ALEGRIA?


(FOTO DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO)


 Há dias, em Coimbra, uma senhora de meia-idade entrou numa loja de velharias e perguntou ao dono do estabelecimento se tinha postais antigos da Lousã. Como não tivesse, o vendedor de antiguidades, evidentemente que abanou a cabeça negativamente. “Que pena, vivo em Lisboa, nunca encontro postais da minha terra!”. Este vendedor de sonhos, “transmutador” de um tempo presente para um passado recente, observador e apontador de mil histórias, fazendo lembrar o escritor e poeta, épico, Victor Hugo, na sua obra “O Vendedor de Antiguidades”, sem nada que o fizesse prever, abriu um velho gavetão, retirou do seu interior um livro, composto por um conjunto de fotografias da Lousã, dos idos anos 50, do pretérito século, e ofereceu-o à senhora desconhecida.
Assim que abriu o livro, vendo aquelas fotos da encosta serrana, os caminhos em terra-batida, de uma ruralidade de um Portugal esconso e atrasado, certamente, memórias gravadas a fogo, em reminiscências de uma meninice passada, a mulher não se conteve. Os seus olhos profundos, carregados de nostalgia, desfizeram-se em mil prantos, em lágrimas de alegria. O dono da loja, pouco interessado no valor material do presente doado, o que ficou a saber é que um pequeno gesto isolado pode valer uma fortuna em consolação e alegria para quem a recebe. Quantas vezes, neste tempo individualista, em que tudo é cobrado, nos lembramos que a dar também podemos receber. A forma como esta mulher embalava as fotografias, como de um menino de colo se tratasse, foi uma boa lição para o homem da loja de recordações do passado. Ambos ganharam o dia.
Uma Imagem do nosso passado, de antanho, pode valer uma vida. Estas casas, autênticos museus-vivos e interactivos, deveriam ser mais acarinhadas pelas autarquias e pelo governo central. É graças à intuição, à preservação da memória, e ao interesse cultural dos proprietários destas pequenas lojas e vendedores de feiras de velharias, espalhadas pelo país, que muitos objectos são retirados "in extremis" do caminho da destruição das lixeiras públicas. Pegando nesta pequena história, pensemos, por um momento, no serviço público e cultural que estes comerciantes prestam ao país. É graças ao seu empenho que os nossos descendentes tomarão conhecimento de objectos arcaicos que fizeram as delícias dos nossos avós.

10 comentários:

Anónimo disse...

Ainda bem que gostou desta fotografia.
Passado o tempo, que pensei adequado, venho aqui dizer algo sobre esta fotografia, e outras duas mais, que coloquei no prosas vadias, lembrava com elas o seu autor, um jovem, estudante universitári, que se suicidou, recentemente, na Rua do Brasil, em Coimbra. Foi ele o autor desta e de outras, que nos legou. Chamava-se Leonardo Braga Pinheiro. Um abraço.

LUIS FERNANDES disse...

Muito obrigado, Carlos Freitas, por ter comentado e pela informação. Não sabia mesmo que esta excelente foto fosse do malogrado Leonardo Pinheiro.
Por acaso, no dia da notícia publicada no DC, escrevi um "post" sobre o suícidio desse jovem a que chamei "Um Suícidio Anunciado". Se quiser ter a maçada pode ler neste blogue. Um abraço e obrigado.
LUIS FERNANDES

Fátima Braga disse...

Fátima Braga disse...
Sou mãe de Leonardo Braga Pinheiro, agradeço por ter publicado as fotos de meu flho. Ao Sr. LUIS FERNANDES fiz um comentário ao "post" "Um Suicídio Anunciado", espero que o leia
Obrigado, nã tenho mail, mas se algo tem a responder ao que escrevi, estarei atenta ao seu blogue.
Obrigado.

LUIS FERNANDES disse...

Bom dia minha Senhora. Os meus sentidos pêsames pela sua dor. Não sei se esta frase escrita serve para alguma coisa num momento de tão grande tragédia, no entanto, fica o meu lamento.
Não precisa de agradecer. Pelas fotos (poucas que vi) o (seu) Leonardo era um artista de elevada sensibilidade. Uma pena...enfim!
Quanto ao comentário que diz ter enviado...não recebi. Volte a inseri-lo que eu teri muito gosto em postá-lo.
Quando quiser "vir" ao meu humilde blogue, já sabe, tenho muito gosto em "recebe-la". Venha sempre que queira.
Tenha uma boa semana e...muita coragem. acredite que entendo bem a sua dor. Mas a natureza é assim mesmo. Não somos donos de ninguém. O que poderemos fazer perante uma tragédia (não anunciada) que se abate sobre o nosso telhado? nada. Absolutamente nada. Culparmo-nos de pouco serve, ou pelo contrário, ainda complica mais, perpetuando um luto que se quer rápido.
Se permite, vá em frente. Esqueça (pelo menos tente) o que lá vai.
É a vida...
Um abraço de solidariedade neste ainda pouco tempo de dor.

LUIS FERNANDES disse...

Bom dia D. Fátima. Muito obrigada pelo envio das cartas deixadas por Leonardo.
Antes de mais, gostaria de dizer-lhe que não escrevi nunca que "o suicídio é um acto covarde". Quem o afirma é o Luis C. Rodrigues num comentário deixado no texto:

Luís C. Rodrigues disse...
O suicidio numa idade tenra é grave, aliás muito grave!
Não precisava de se apresentar como anónimo aqui ninguem quer mal a ninguém. É um tema sensivel mas não é por isso que deve ser deixado num canto.. Acho que se deve falar dele.
Pelo menos as pessoas poderam ter oportunidade de pôr os seus pensamentos e dizer o que acham.
Pessoalmente, numa forma geral, acho um acto de cobardia... É sempre mais fácil optar pelo caminho mais simples e indolor. De certeza que o jovem não terá mais dor nesta vida mas seus pais iram carregar todos os dias das suas vidas com ela.. Teremos o direito de magoar desta forma entes queridos? Por amor de Deus! Ai de mim por meus pais e pessoas que me amam!
Então e as pessoas com deficiencia, cegos, surdos, etc... Que pensaram eles ao ouvir falar em acontecimentos como este... Temos que saber dar valor à VIDA só assim a poderemos respeitar. Quando se é jovem é mais fácil mudar de vida. Pegue-se num comboio e se recomece tudo de novo num lugar diferente. Há sempre soluções. Todos nós temos um Herói dentro de nós. Deêm-lhe voz!
Foi com grande tristeza e surpresa que recebi a noticia!
Os meus pêsames aos pais, familia e amigos.
9 de Maio de 2008 22:56

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Gostaria de lhe perguntar se posso publicar o seu comentário. Faço esta pergunta porque as cartas que o Leonardo deixou, por um lado, são muito pessoais, por outro, são demasiado importantes como testemunho.
Eu gostaria de fazer um texto de análise sobre o suicídio e recorrer a passagens destas cartas. Fiquei muito impressionado. Responda-me se as posso publicar. Muito obrigada e, mais uma vez, o meu sincero sentido pesar pela sua dor.
Um abraço solidário.
Luis Fernandes

LUIS FERNANDES disse...

Boa tarde D. Fátima. Mais uma vez os meus sinceros agradecimentos.
Quanto às cartas, pode crer -prometo-lhe- que tudo o que escrever será sempre com amor. Ainda lhe digo mais, tenho um filho muito complicado. Como eu a entendo bem. Por isso, pode crer, ainda não sei o que vou escrever -e o que escrever passará sempre por aqui pelo blogue-, mas quando o fizer será sempre no âmbito do princípio da responsabilidade e para que as cartas deixadas por Leonardo possam fazer reflectir e ajudar alguém. Será sempre nesse pressuposto. Aliás, escrevo sempre nesse princípio.
Gostaria que me informasse onde vai decorrer a exposição do Leonardo, a partir de 7 de Maio. Terei muito gosto em ir lá, escrever sobre o evento, fotografar e publicar algumas fotos aqui no blogue.
Se entender por bem, pode telefonar-me para os seguintes números: 239 833946 ou 91 780 86 00
Um abraço e, mais uma vez, muito obrigada pela confiança depositada.

LUIS FERNANDES disse...

Bom dia D. Fátima. Mais uma vez muito obrigada pela confiança.
Antes de mais, gostaria de lhe dizer porque não publiquei as cartas de Leonardo nos comentários. É que, por um lado, tenho demasiado respeito por elas, por outro, são demasiadamente importantes como testemunho para as colocar como comentários, um pouco ao deus-dará. Estou a ser claro? Não pense que estou a fazer censura ao que escreve. Nada disso.
Realmente, tenho de confessar, estou realmente muito interessado em toda a verdade de Leonardo.
Acredite que não é uma curiosidade mórbida, é no sentido de eu poder escrever algo que possa ajudar outros pais como nós.
Tenho de lhe dizer, sinceramente, que não sei se sou capaz de escrever um documentário com essa importância. Tenho uma filha que é psicóloga e, com a sua ajuda, pode ser que seja bem sucedido. Pelo menos tentarei.
Mais uma vez agradeço a sua disponibilidade e confiança. Quando vier a Coimbra, faça-me o favor, então, de me contactar. Estou muito interessado, como certamente já viu.
Ligue-me, eu e a minha filha iremos falar consigo com muito gosto.
Um grande abraço e muita coragem.

LUIS FERNANDES disse...

Bom dia D. Fátima. Mais uma vez obrigada por ter tido o trabalho de me responder sempre.
Então, conforme diz, assim se fará. Quando vier para Coimbra, faça o favor de me ligar que eu e a minha filha iremos ao seu encontro. Não sei se precisa de alguma ajuda. Se precisar, faça o favor de dizer. O que eu puder ajudar, ajudarei. Sobretudo na divulgação da exposição. Se precisar tenho bons contactos com os jornais da cidade, Diário de Coimbra e as Beiras. É só dizer.
Aguardo então o seu contacto.
Um abraço.

Fátima Braga disse...

Srº Luís Fernandes, desculpe de só agora me ter sido possível responder-lhe, estive de férias na Ilha Terceira e só agora cheguei, quero muito agradecer-lhe pela sua atenção e disponabilidade, quanto á exposição esta foi adiada para o dia 22 de Maio.
Irei no dia 6 de Maio para a Marinha Grande preparar as fotos no Carlos Portugal, foi por esta razão que houve adiamento, o meu filho só confiava nele, pensava que a moça encarregada resolvia-me o assunto, mas assim não foi, na verdade percebo muito pouco do assunto, mas sei perfeitamente como quero as fotos, essa foi uma e a única condição que impos ao dar autorização á escola para fazer a exposição, não interfiro com mais nada, só como e onde serão elas reveladas.
Srº Luís será que posso dar o seu contacto á amiga do Leonardo caso a escola necessite de ajuda para a divulgação da exposição?
Por favor responda-me se sim ou não.
Irei novamente para a exposição no dia 22, quando chegar a Coimbra telefono-lhe, caso ainda esteja interessado, sem compromisso.
Espero resposta.

LUIS FERNANDES disse...

Boa noite D. Fátima. Claro que sim. É óbvio que pode. Tudo o que estiver ao meu alcance para divulgar a exposição, eu farei. Pode contar comigo. Estou à sua disposição.
Um abraço.