sábado, 8 de dezembro de 2007

"O INDIVIDUALISMO E INDIFERENÇA NAS ATITUDES ESTUDANTIS"

(IMAGEM DA WEB)


  Elísio Estanque, reconhecido sociólogo do Centro de Estudos Sociais da FEUC, em 25 de Novembro do corrente ano de 2007, publicou no Diário de Coimbra (DC) a primeira parte de um estudo sociológico, em forma de diagnóstico, no âmbito de um projecto realizado pelo CES, Centro de Estudos Sociais , da Universidade de Coimbra. Presumo que, correndo a possibilidade de errar, que a segunda parte tarda em ser publicada no DC, provavelmente, como estratégia, à espera do livro “Do Activismo à indiferença –movimentos estudantis em Coimbra”.
Já naquela data li o artigo com atenção e a verdade é que não me provocou reacção. Todos constatamos estas atitudes de mergulho no “individualismo quotidiano autocentrado no interesse individual” no dia-a-dia. Até vou mais longe: afinal, não se passará o mesmo com a sociedade no seu todo?
Recuemos um pouco no tempo. O individualismo como filosofia económica começou no século XVIII, com Adam Smith, ao preconizar um ideal político em que o desenvolvimento assentava na iniciativa privada e o Estado, tendo apenas uma função de árbitro, não deveria se imiscuir na actividade económica. Dando início ao “laissez faire, laissez passez”. Com avanços e recuos, a verdade é que chegámos ao século XXI e o pai da moderna economia, que muito contribuiu para a ciência económica, estava longe de prever que a riqueza mais distribuída, verticalmente, elevando o bem-estar, daria origem a outro movimento, com o mesmo “ismo”: o narcisismo individual, desprovido de qualquer sentimento de solidariedade para com o próximo, o pensamento centrado apenas no individual, na sua própria pessoa. Não deixa de ser paradoxal, porque o ter mais, o viver melhor, deveria, em principio, criar um subsequente desejo de dividir e ajudar o próximo. Mas já se viu que em face da abastança, o homem quanto mais tem mais quer. Assim como, à medida que, obsessivamente, caminha em direcção ao mirífico mundo novo do bem-estar, transversalmente vai perdendo a sua capacidade reivindicativa e, em consequência, cada vez se torna mais apático em relação às causas sociais. O curioso é que o seu desinteresse pelo colectivo, como boomerang, virá, inevitavelmente, a médio prazo, a tocá-lo no (seu) individual. Como especulação, poderemos ser levados a intuir, no limite, que se é no dissenso social que germina a evolução do sociedade, poderemos pensar que o futuro será “muito mais do mesmo”, talvez para pior, e muito menos daquilo que fomos habituados a conquistar, com especial incidência no último século, através da reivindicação e das lutas sociais. Ou seja, a abastança e a fúria desenfreada pelo “ter” a qualquer jeito, sem olhar a meios para atingir os fins, acabou por apagar a chama do “ser”, que assentava num “devir” de transformação, sempre em movimento, sem esquecer a afirmação individual, mas cujo objecto era o político-social, enquanto interveniente no espaço público.
Voltando ao estudo de Elísio Estanque, os estudantes universitários, penso, não serão muito diferentes do homem-sócio-cultural, enquanto resultados de uma cultura social em que estão inseridos. Claro que poderemos afirmar que as revoluções sociais começaram sempre nos jovens, enquanto contestatários a um “status quo” implantada quase autoritariamente e displicentemente pelos mais velhos, normalmente conservadores e alheios a mudanças.
E aqui, inevitavelmente, vou chegar onde queria: pode uma universidade velha, conservadora, como é a Universidade de Coimbra -e não me refiro obviamente à sua vetusta idade, desde 1537 que se instalou de vez em Coimbra- incutir nas gerações mais novas um espírito reivindicativo e de intervenção social?
Evidentemente que tenho a minha opinião e conhecimento de causa, mas deixo isso à especulação alheia.

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