quarta-feira, 4 de outubro de 2023

MEALHADA: SANTOS DA CASA NÃO FAZEM MILAGRES

 




Quanto ao desempenho profissional na actualidade de

Igor Alves, talentoso compositor musical, executante e

professor da área de secundário e reconhecido pela DGE,

Direção Geral da Educação, podemos encontrá-lo a exercer

o múnus de electricista numa empresa na Pampilhosa. 

É desprestigiante esta troca de profissão? Claro que não,

 pelo contrário, é dignificante e corajoso para quem o faz. 

E quem o afirma é o próprio citando Jorge Palma, 

“enquanto houver estrada para andar a gente vai continuar...”




Foi noticiado esta semana em vários jornais da região a criação de uma nova escola de música e um coro infanto-juvenil na Mealhada.

Segundo o Jornal da Bairrada, “A notícia foi avançada, ontem, aquando da inauguração da exposição “A música e suas histórias”, promovida pela Marés d’Entusiasmo – Associação Artística e Cultural, em parceria com o Município da Mealhada.

O Dia Mundial da Música foi assinalado, no Cineteatro Messias, com a inauguração da exposição “A música e suas histórias”, promovida pela Marés d’Entusiasmo – Associação Artística e Cultural (…).

Sediada, desde fevereiro, na Mealhada, a Marés d’Entusiasmo – Associação Artística e Cultural pretende criar uma escola de música que venha colmatar a falta de uma escola de ensino artístico especializado da música, no concelho. Com esta oferta educativa, a funcionar já a partir deste mês, todos os que procurem frequentar este tipo de ensino especializado não necessitarão de se deslocar a concelhos limítrofes. O segundo projeto, o coro infantojuvenil, procurará proporcionar vivências musicais e culturais, no âmbito da música coral, a todas as crianças e jovens que desta linguagem queiram usufruir, segundo explicaram os responsáveis da Marés d’Entusiamos”, lê-se num comunicado da Autarquia da Mealhada.

Apresentados como projectos novos, com muita pompa e superlativa absoluta circunstância, em propósito a roçar a indignidade, ninguém referiu que entre 2012 e 2020 laborou a Escola de Música da Mealhada (EMM).

Sob a direcção de Igor Alves, professor de piano e regente, constituída em 2015 como associação sem fins lucrativos e espalhando o ensino da música no Concelho à custa de patrocinadores particulares e públicos, entre estes o executivo então liderado, na altura, por Rui Marqueiro com um apoio anual de cerca de apenas 600.00 € em 2018 e 800 euros em 2020, o projecto viria a ser apanhado pelo tsunami da pandemia.

A partir de Abril de 2020 deixou de haver receita porque, devido ao confinamento, deixou de haver parcerias, instituições protocoladas com a EMM. Em consequência dos cortes impostos, perderia todos os apoios e patrocínios públicos e privados e deixaria Igor Alves num manto de compromissos quase impossível de cumprir.

Sediada na Mealhada, com cerca de noventa alunos de todas as idades, que eram os associados da entidade, incluía também um coro infanto-juvenilcomo um coro juvenil, grupo de cordas, grupo de guitarra clássica, grupo de rock, entre outros, que participaram em quase todos os eventos promovidos pelo município e com várias actuações no Cine Teatro Messias.

Em média, o custo da mensalidade andava na casa dos 47.00 €, por aluno.

Com um leque de nove professores a recibo verde, que auferiam consoante as aulas prestadas, os custos fixos, renda, água, luz, Segurança Social e comunicações e um ordenado mínimo de Igor Alves, giravam à volta de 1,500.00 €.

Em Outubro de 2020 o Mealhadenses que Amam a sua Terra entrevistou o nobel professor e semeador de cultura. Já nessa altura Igor lamentava o desinteresse da autarquia: “Desde que criei o projecto fui sempre pedindo instalações. Nunca foram cedidas. Verdadeiramente nunca senti apoio. O apoio que tinha era a cedência gratuita do Cine-teatro Messias, mas, comparando com as outras que fazem, isso não era nada. Não senti que a EMM fosse discriminada, mas sinto que era pouco valorizada, tendo em conta o espectro cultural no trabalho desenvolvido.”


POR QUÊ ESTE SILÊNCIO ANIQUILADOR DE UM HOMEM DE VALOR?


Como ressalva de interesses, declaro nada me mover contra a Marés d’Entusiasmo. Em busca na Internet, as informações sobre esta empresa são parcas ou nenhumas. Sem Capital Social declarado, sabe-se que foi fundada em Aveiro (e agora radicada na Mealhada).

Quanto ao serviço público desempenhado pela EMM durante oito anos pode ser consultado na sua página do Facebook onde, como campa desprezada de indigente, jaz uma iniciativa que deveria ter sido muito acarinhada pela anterior e actual maioria e não foi. Salvo melhor opinião, quando se desconsidera o valor individual de alguém com provas dadas e se substitui por outro aparentemente sem grande currículo alguma coisa vai mal no reino da mais elementar justiça e melhor futuro.

Quanto ao desempenho profissional na actualidade de Igor Alves, talentoso compositor musical, executante e professor da área de secundário e reconhecido pela DGE, Direção Geral da Educação, podemos encontrá-lo a exercer o múnus de electricista numa empresa da Pampilhosa. É desprestigiante esta troca de profissão? Claro que não, pelo contrário, é dignificante para quem o faz. E quem o afirma é o próprio citando Jorge Palma, “enquanto houver estrada para andar a gente vai continuar...


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