quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

JÁ ERA...



 Hoje durante o dia, nas artérias largas da Baixa, nomeadamente as Ruas da Sofia, Visconde da Luz e Ferreira Borges, um exército de senhores muito bem-vestidos com umas pastas no antebraço, de fatinho e gravata, todos muito novos e que pode ser significativo para agradar a um certo público, tolhia-nos o passo. Numa primeira impressão, até se poderia pensar “queres ver que a moda de apanhar clientes para os restaurantes já chegou a Coimbra? Depois de falhado primeiro pensamento, numa segunda impressão, desabafava-mos para os nossos botões: “nãaa”. Não pode ser! São mas é uma invasão de “meninos” mormons, como antigamente se viam aos pares, recém-chegados. Se calhar para converter a cidade -que tanto precisa, já que nem São Francisco se salva- a esta religião da Igreja de Jesus Cristo do Santos dos Últimos Dias.”
Só desmanchávamos o tabu quando um deles interrogava: “não está interessado em ver um andar, aqui na Baixa, que temos para venda? Não?! E não quer comprar em outro local? Não?! E não tem nada para vender? Não?! E não conhece uns amigos que tenham qualquer coisa para vender? Se calhar tem?!”. E entregava-nos uma pasta de capas avermelhadas.
Afinal, tratava-se de uma investida –sim o termo está apropriado- de uma agência da ERA COIMBRA, situada no Vale das Flores, com um novo formato de vendas inserido na temática “CASA ABERTA –NEGÓCIO FECHADO. No caso, era uma transacção de um andar por cima da antiga pastelaria Central e ao lado do Café Nicola, na Rua Ferreira Borges que estava de portas franqueadas –como quem diz abertas- à espera de visitantes. À entrada, onde estava uma bandeirola e uma passadeira vermelha, mais um pelotão de fuzilamento –como quem diz de inquirição- interpelava-nos e dava-nos mais um panfleto onde informava que “ANTES o apartamento T3 custava 85,000 euros, AGORA 59,000 euros”.
Ora bem, se esta crónica começou por ser escrita em tom irónico, a cair no brejeiro, agora passa ao sério. Há aqui qualquer coisa que não bate bem. Estas ruas da calçada estão transformadas em “empata-focas” –eu escrevi “empata-focas”. Não tenho culpa nenhuma que você pensasse noutra expressão. Sou muito sério por parte do meu pai que, por acaso, até era velhaco. Escrevi “empata”, porque empatam quem passa. E “focas”, porque os transeuntes destas ruas, no qual me incluo, vão sempre direitinhos e emproados.
Começa a ser incomodativo tanto tolher o passo por uma causa qualquer. É por uma associação de beneficência, é para a AMI, é para a “liga não sei das quantas”. Fosca-se! Já não há pachorra!! Com urgência, é preciso dizer que este estado já era, ou já foi, ou qualquer coisa assim.

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