sexta-feira, 31 de maio de 2013

ROSTOS NOSSOS (DES)CONHECIDOS


 Quem atravessou hoje a Praça 8 de Maio à hora do almoço, se, em frente à Igreja de Santa Cruz, não se apercebeu de uma figura humana, hirta, pintada de branco como saída das trevas e das trovas do vento, quando alguém colocava uma moeda no pequeno cesto, de repente, o largo era invadido por uma voz melodiosa, bem timbrada e afinada, de anjo, numa harmónica sinfonia celestial. Então vamos lá saber quem é esta imagem mitológica.

"Chamo-me Cláudia Santos. Tenho 24 anos, e sou desempregada activante. Frequentei o conservatório na área de guitarra e estudei fotografia no ensino superior. Como estava sem nada fazer, reuni comigo os meus heterónimos de emergência, e, dando uma metafórica palmada em cima da mesa, um deles gritou: Cláudia, isto não pode continuar assim. Tens de te atirar à vida, rapariga. O que é que sabes fazer? Ali mesmo, tratei de inventariar os meus talentos. Tenho alguns. Fixei-me no canto. Eu sempre gostei de cantar, mas, por uma razão ou outra, nunca o consegui fazer. Foi assim que descobri que o poderia fazer. Afinal eu sou dona da minha vontade. É ou não é? Como tudo na vida, a primeira vez foi um pouco difícil. Agora já é para mim quase normal. Está correr muito bem. Por acharem a ideia muito original, as pessoas páram e dão uma moeda para me ver e ouvir e eu sinto-me muito bem. Pressinto que estou a alegrar as ruas da cidade, a fazer algo de útil. Que acha o senhor da minha performance?"

1 comentário:

Tétisq disse...

Eu vi! E gostei muito.