terça-feira, 20 de janeiro de 2009

CENSURA PRÉVIA NOS BLOGUES É REGRA?



Alguns comentários que já recebi, acusando-me de censor, foi exactamente pelo facto de antes de os inserir, obrigatoriamente, os ler. Como se diz vulgarmente: passar pelo crivo. Acontece que as poucas pessoas que expressaram essa opinião, algumas vezes a raiar o insulto, o fizeram na qualidade de anónimos. Saliento que mesmo assim sempre os publiquei.
Vamos por partes: eu dou a cara. Logo, por incrível que pareça, quem me acusa de censurar, ou obstaculizar a liberdade, esconde-se atrás do anonimato. Então é caso para interrogar que conceitos de liberdade responsável farão estas pessoas? Sem demagogia –pelo menos para mim- a liberdade pressupõe frontalidade, isto é, seja para o que for, as pessoas deveriam ser obrigadas a identificar-se. Essa premissa, fundamental da liberdade, para começar, deveria estar consignada na lei. O Estado nunca deveria admitir denúncias anónimas. Afinal não era esta a norma do Estado Novo? Sempre que não se gostava de um vizinho denunciava-se à PIDE como perigoso agitador. E hoje, em democracia, o que faz este Estado de Direito? Exactamente a mesma coisa. Ou seja, presta-se a ser o instrumento vingador de pequenos ódios pessoais.
Voltando à Web, e ao caso dos blogues. Pelo menos para mim, o meu humilde blogue www.questoesnacionais.blogspot.com é, como chamo, a minha gaveta interactiva. O que quero dizer com isto? Que esta “gaveta” cibernética é o meu cantinho especial, onde “arrumo” os meus escritos. Pode até, para alguns, não prestar para nada, mas, para mim, apesar de o compartilhar, é muito pessoal e importante. Assim sendo, penso, já dá para ver que se eu “permito” que entrem e vasculhem à vontade tudo o que escrevo, sobre o que penso, acerca de mim e de outros, é mais que legítimo que exija que quem cá vem o faça dentro das regras que eu, dentro do meu direito natural, criei. Volto a lembrar que, ao escrever, dou a cara e responsabilizo-me pelas minhas opiniões justas ou injustas acerca de outros. Não o faço a coberto do “encapuzamento”, ou atrás da cortina.
Como já tenho mais de meio século, embora admita que é um argumento pouco sustentado, como já venho lá de longe, do “tempo da outra senhora”, em que a liberdade era o prius fundamental da luta contra o fascismo. Quem a invocava tinha um respeito e uma deferência como se estivesse perante uma divindade. Mas havia mais, sabia-se que a liberdade implicava directamente responsabilidade. Liberdade, quando implica outro, não pode ser libertinagem e fazer o que apetece. Liberdade é a filosofia da vida, individualmente (sozinho), ou em comunidade. Mas quando em sociedade, “usar” a liberdade é ter noção de que é um bem escasso –contrariamente ao que se pensa-, e que a devemos “utilizar” com peso e medida. E mais: ter sempre presente que a “minha” liberdade acaba onde começa a do outro. Esta era (e continua a ser) uma das premissas do Direito Natural, imanente ao homem e em contraposição ao caos, que, não tendo leis escritas, as suas obrigações e direitos assentavam nos costumes. Ainda hoje acontece em África, e não só, onde o respeito pelo outro assenta na sã convivência e os conflitos são dirimidos e julgados pelo ancião mais velho da comunidade. Claro que estas sociedades antigas são profundamente hierarquizadas, o que se por um lado as torna pouco dinâmicas, comparativamente com as sociedades desenvolvidas, por outro, o respeito, através dos pilares hierárquicos, é mais facilmente imposto de cima para baixo, como pirâmide, do vértice para a base. Nas sociedades desenvolvidas, ditas democráticas, contrariamente às anteriores, em nome da igualdade, desaparecem as hierarquias e a liberdade, de baixo para cima, invade toda a esfera societária. O problema é conseguir fazer a gestão dessa liberdade sobretudo quando se pensa que em seu nome tudo se pode fazer e invadir sem restrições qualquer espaço privado ou público.
Voltando ainda à Internet, a bem e em nome da sua respeitabilidade, é minha profunda convicção de que num futuro muito próximo ninguém conseguirá esconder-se atrás de um pseudónimo. Por muitos grandes passos gigantes que se tenham dado, ainda há muito para fazer no campo da responsabilização individual e colectiva nas ondas cibernéticas. Ainda não se sabe muito bem onde começa e acaba o “privado” e o “público”.

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