sábado, 19 de agosto de 2023

EDITORIAL: OS SETE FÔLEGOS DAS GRANDES SUPERFÍCIES COMERCIAIS (1)

 

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




Na penúltima edição o semanário Expresso noticiava no caderno de economia: “O comércio está a voltar à rua: há grandes marcas a deixarem centros comerciais para ficar mais perto das cidades”.

E em desenvolvimento: “O comércio de rua está a renascer: impulsionado pela reabilitação urbana, que proporcionou novas áreas, e pelo turismo, os negócios de rua estão a crescer em lojas e volume de vendas. E não são só os pequenos negócios a fazer esta aposta: algumas grandes marcas estão a deixar os centros comerciais e a transferem-se para as principais artérias comerciais das cidades.”

Recuando um pouco no tempo, embora a história não refira como tal, o primeiro centro comercial do país, terá sido os Armazéns Grandella, em 1907, distribuídos num prédio de 11 andares com entrada pela Rua do Ouro, em Lisboa, e que viriam a serem destruídos pelo grande incêndio que devastou a zona do Chiado em 25 de Agosto de 1988. Após longa recuperação, viriam a reabrir com novo formato comercial em 1996. Pensados e realizados pelo grande empresário-visionário Francisco de Almeida Grandella, cuja história de vida, eloquente e fantástica no engrandecimento em prol do país, ainda não teve o justo merecimento por parte das autoridades oficiais, após longa recuperação, viriam a reabrir com novo formato comercial em 1996.

O segundo terá sido o “Centro Comercial do Cruzeiro”, em 1951, no Monte Estoril, a funcionar no edifício “Cruzeiro”. O projecto comercial viria a ser abandonado na década de 1970.

O terceiro terá sido o “Apolo 70”, em Lisboa, na zona do Campo Pequeno, com uma área de três mil metros quadrados. Foi inaugurado em 1971 e, meio-século depois, encerrado, por ordem do tribunal, em 2021.

O terceiro, já com planeamento e arquitectura contemporânea, e com a denominação de “Hipermercado” terá sido o “Continente”, em Matosinhos, em 1985.

Voltando à notícia do “Expresso”, não deixa de ser curioso por quanto, por volta da transição do milénio quando se deu a grande multiplicação destes mega-espaços em Portugal, foi vaticinado por muitos economistas que, tendo em conta a comparação com restantes países europeus, o prazo de validade do grande comércio concentrado era de 15 anos.

Por indução, o jornal de Balsemão não estará completamente certo. Ou seja, o teor da informação em “Caixa” parece indicar-nos que as grandes marcas estão a voltar à rua e, por especulação, as grandes cadeias alimentares e outras fazem o mesmo. Mas, a meu ver, não é totalmente verdade.

Devido ao fluxo turístico internacional que diariamente engrossa as grandes e médias cidades e, sobretudo, pela logística, pelos elevados custos de organização, algumas marcas de prestígio, tentando livrar-se do garrote dos shoppings, desde há cerca de quatro anos, estão, paulatinamente, a abandonar as catedrais comerciais. O problema destas cadeias internacionais é pretenderem grandes áreas com mais de um milhar de metros quadrados e raramente se encontrar espaços. As grandes urbes, como Porto e Lisboa, e as médias, como Coimbra, tem um lastro de milhares de pequenas lojas mercantis até, no máximo, uma centena de metros.

O que se verifica, na prática, é grandes cadeias, como a Sonae, o Aldi, o Intermarché e o Bricomarché, estarem a largar as grandes metrópoles e a posicionar-se em cidades pequenas, com áreas comerciais até 2000 metros quadrados, como por exemplo, a Mealhada, que viu abrir, há cerca de um ano, o “Pingo Doce” e, muito em breve , seguir-se-ão o “Aldi” e o “Continente”. No mês passado, Julho, a cidade de Anadia, de rajada, inaugurou duas médias superfícies: o “Bricomarché” e o “Intermarché”.

Não deixa de ser motivo de reflexão o facto de recentemente ter sido anunciado que grupo “Dia”, proprietário da marca “Minipreço”, iria abandonar Portugal e venderia as suas 489 lojas ao grupo “Auchan”.

Estará em coma induzido? Quantos fôlegos tem o grande Comércio?


(Voltarei a este assunto)





Sem comentários: