terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

HOJE FOI DIA DE SÃO VALENTIM

 




Hoje, logo de manhã, ainda o galaró da nossa capoeira não tinha atirado o grito de supremacia perante as suas veneradas galinhas, já eu estava a dar um beijinho de enleio à minha consorte. Afinal, o Dia de Namorados só se comemora uma vez por ano. Precisamente por ser apenas de 365 em 365 dias é que, com receio de esquecimento, até dormi em sobressalto.

É verdade que os maledicentes discordatários da comemoração da efeméride, só para aborrecer os peregrinos cumpridores desta data, espalham ao vento que todos dias deveria ser Natal, mas, bolas!, um homem comum com tanto para pensar sobre os grandes temas da actualidade, conseguir não passar ao lado, é já um enorme encargo que ninguém dá valor.

Não é por nada, mas, neste tempo de luta pela igualdade de género, parece que a tão ambicionada correspondência, por um lado, não está a ter os resultados esperados, por outro, tem redundado em continuada extrema violência do homem sobre a mulher. É óbvio que nem todos são assim, digo eu, com grande sapiência e elevada neutralidade.

Toda a gente sabe que os homens são lixo” – claro que há uma minoria que salva a classe, como eu, por exemplo, nem poderia ser de outro modo -, como canta Miguel Araújo. “São muito pouco astutos, muito pouco astutos. Toda a gente sabe que os homens são brutos”, quase generaliza o músico com exagero.

Continuando a descrever o dia, depois de dar uma beijoca à minha mulher, levantei-me e fui fazer o pequeno-almoço, para, em seguida, lho levar à cama. Enquanto o leite fervilhava no micro-ondas, como se cantasse hossanas de salvação a um homem tão exemplar como o que estava à sua frente, que por acaso sou eu, modéstia à parte, a minha gata, a Mel, deu em enrolar-se nas minhas pernas. Percebi logo que também estava a incluir-se na lista de bafejados. Como demorei um pouco mais do que o necessário, o meu amor já estava levantado – lá se foi a surpresa.

Como o meu universo de viagens terrenas e mundanas é maior que o do falecido e histórico Fernão de Magalhães, que Deus tenha em boa guarda, pensei, pensei onde haveria de levá-la.

Montados num cavalo alado, branco como o de Napoleão, fomos até Coimbra passear e depois almoçarmos no melhor restaurante da cidade dos estudantes, “O Giro” na Rua das Azeiteiras. Antes de prosseguir, interrogo: quantos maridos tiveram uma ideia luminosa assim? Não é para me gabar mas, mais que certo, só eu, evidentemente.

Ia eu a pensar já no passo seguinte, como quem diz, criar um poema e contratar na zona um violinista para me acompanhar na declamação, foi quando nos apercebemos que o nosso querido e preferido restaurante estava encerrado para férias. Ora Bolas!, disse cá para os meus botões.

Perante uma situação tão catastrófica, o remedeio foi entrar numa casa pantagruélica da zona. Azar dos azares, o almoço não estava muito saboroso e a minha amada, torcendo o nariz de descontentamento, não gostou nem um bocadinho. Como é natural, perante um cenário tão pouco idílico, despedi o poema e enviei-o de volta às catacumbas da minha alma.

Não era por nada, mas, tal como as notícias de hoje sobre os alegados abusos sexuais no seio da Igreja Católica, parecia que nada me saía bem.

Bom, colocando os pés na terra e como o cair da tarde se aproximava a passos largos, rapidamente pensei em ir ao Intermarché, na Mealhada, e, tal como faço nos anos antecedentes, comprar-lhe um lindo bouquet de rosas vermelhas. Mas o azar perseguia-me, para além de uma fila enorme de bons maridos e dedicados esposos, rosas vermelhas parecia já não haver. A todo o custo, tentando sair bem na fotografia, optei por comprar um antúrio vermelho.

Como mais umas coisinhas não chegava aos trinta euros, juntei mais uns chocolatinhos numa caixa vermelha em forma de coração Tive direito a uma moedinha para inserir na “Slot Machine”. Fixei-me nos prémios maiores, no “jacpot”, um computador portátil ou 280.00 em compras em cartão. Antes de meter a moeda roguei ao meu Santo Onofre que me ajudasse na ocasião. Aprumei-me, enchi o peito de ar e, com alguma solenidade, amandei a ficha para o ventre da máquina. Ela rejubilou de alegria e os meus prémios preferidos luziram com tanto brilho. E eu dei um salto. A máquina cantarolou uma espécie de marcha-fúnebre para perdedores, assim parecido à dos casinos, e parou. Deu-me um pacote de massa de prémio.

Porra, hoje não foi mesmo o meu dia. Quem sabe para o ano, no próximo Dia de São Valentim, a coisa não corra melhor?


1 comentário:

Anjo António disse...

Excelente texto no entanto poderias ir ao pátio almoçar e o dia gastronómico era bom