quinta-feira, 27 de agosto de 2020

UM AGRADECIMENTO E UM PEDIDO DE DESCULPA

 

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)



Como muitos dos meus amigos sabem ontem comemorei a data inscrita no Cartão de Cidadão do meu nascimento. Sim, é verdade, a data do documento de identificação marca 26 de Agosto de 1956 – 64 anos, portanto -, porque, ao que parece fui registado pelos meus progenitores muito mais tarde – antigamente, era obrigatório registar os recém-nascidos no mês subsequente ao nascimento. Vai daí, para não pagarem coima, vi a minha inscrição no grande livro dos vivos no então desaparecido Registo Civil. Sabe-se lá a razão, em tempo útil, nunca me preocupei com esse pormenor, nem mesmo pela curiosidade. Com a minha mãe já com bastante idade e mentalmente algo esquecida, e depois do falecimento do meu pai, ainda tentei apelar à sua memória. Porém, debalde, já era tarde para conhecer a data e a hora do meu grito de Ipiranga.

De modo que, levando a coisa para o menos sério, ontem, sem o saber, poderia muito bem estar a fazer 69. É grave? Ora, ora! De modo algum! Mais que certo, os que fizeram ontem 69 tiveram o mesmo prazer que eu. Certo? Não. Errado!

Uma pessoa só deveria comemorar aniversário até aos 50 anos. Após os dois terços do livro, quando se aproxima o epílogo, quando começamos a sentir que temos mais passado que futuro – e mesmo este é incerto – cada ano que passa, e sentimos que cada vez mais o tempo, o nosso espaço de vida, se esgota sem podermos fazer nada, e é equivalente a uma valente bordoada nas costas, o tempo já não deveria contar.

Se vivêssemos numa sociedade quase perfeita – que, provavelmente, nunca será assim, pelo menos enquanto estivermos inseridos no actual sistema de sustentabilidade da Segurança Social e diferença entre activos e passivos–, tendo em conta que a longevidade, a médio prazo, prolonga-nos, cada vez mais, para o centenário, deveríamos trabalhar apenas metade da existência, até ao meio-século, e a outra metade seria gozada da forma que cada um entendesse. Claro que nem todos concordam, mas, a ser assim, permitia uma maior renovação da sociedade, o Carp diem, o gozar o teu dia em pleno, e oportunidade de emprego aos mais novos.

E comecei a a escrever esta crónica simplesmente com um objectivo: por um lado, agradecer a lembrança e a sensibilidade dos meus amigos e muitos conhecidos do Facebook, que me enviaram uma catrafada de mensagens – a propósito, conseguimos relembrar ainda o passado recente, em que não havia rede social? Será que nos damos conta da importância que o aniversário tomou? É bom? Ou é mau?

Por outro lado, venho pedir desculpa por este ano não oferecer, no mínimo, uma bebida – nos anos anteriores as prendas foram mais suculentas -, mas este maldito vírus está a trocar completamente as voltas a todos. Até tinha pensado numa iniciativa gira, mas a Direcção-Geral da Saúde desenganou-me logo: era preciso um plano de contingência. E eu, na minha proverbial inocência, disse que não havia tempo. E pronto! Não vos ofereci um garrafão de cinco litros de água de Luso, apanhada na fonte das onze bicas. 

Era ou não um grande prémio de amizade? Pois era! Mas o que hei-de fazer? Olhem, desculpem lá! Quem sabe para o ano não estejamos livres desta maldita praga e o prémio acumula?


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