Pouco
passava das 19h00 quando Edmundo Duarte, presidente da Assembleia de
Freguesia, deu início aos temas agendados na Ordem de Trabalho.
E, naturalmente, começou por dar voz aos fregueses - que, por acaso,
era só um: eu.
Levava
na bagagem três assuntos, em forma interrogativa: dois referentes à
povoação de Barrô e outro relativo à Vila de Luso.
*
A primeira questão
dizia respeito ao cumprimento da promessa eleitoral para as
autárquicas de 2021 feita pelo Partido Socialista, em que, no seu
programa, se comprometia
à
“Criação de lazer,
com valências ao nível de recreio infantil”,
em Barrô, e, até agora, nada feito.
Por
Claudemiro Semedo, Presidente da Junta de Freguesia, foi dito que,
“há cerca de um ano,
tinha conversado com António Jorge, Presidente da Câmara Municipal
de Mealhada, e que ficou acordado que aquando da realização das
futuras obras da praia fluvial junto ao velho moinho de água se
trataria desse assunto, já que, ambas, eram complementares”.
*
A segunda pergunta
interrogava para quando o reposição dos dois assentos, encostados à
frontaria da capela de São Sebastião - que serviram nas últimas
duas décadas, sobretudo, para os mais idosos, em silêncio,
conversarem com o patrono, pedindo perdão pelos pecados-, retirados
em Setembro do ano passado aquando da pintura da ermida promovida
pela Junta de Freguesia, para cumprimento de uma promessa eleitoral
nas últimas autárquicas. É que em Dezembro, na última Assembleia
de Freguesia do ano transacto, Claudemiro afirmou estar para breve. A
demora, disse o autarca na altura, devia-se ao facto de estarem a ser
requalificados no ferro e na madeira.
Foi
então que o eleito em defesa da freguesia, puxando de um trunfo
forte em jogada de mestre, me arrumou dizendo: “Os
dois bancos já lá estão. Foram colocados ontem.
Foram substituídos por
dois exemplares novos, já que não se conseguiu soldar o ferro”
– presumidamente fundido.
E,
de facto, foram repostos e ficam lá muito bem. Até São Sebastião,
que andava ensimesmado e neurótico pela solidão, ficou contente.
*
A terceira interpelação
foi a constatação de que, na Avenida Emídio Navarro, faltava um
tripé com visor e imagens de Luso antigo. Foi roubado? Foi retirado
pela Junta?
Pelo
presidente foi afirmado que o tripé em ferro foi vandalizado. Não
se sabendo se a intenção era ser surripiado.
E
ENTRETANTO…
Quase
a terminar a sessão, um dos vogais, salvo erro em regime de
substituição, defendendo em tese que, na actual conjuntura de
desinvestimento nas Termas pela empresa holandesa detentora da marca
Heineken e proprietária das infra-estruturas turísticas lusenses,
dificilmente a Vila da água cristalina (vi)veria melhores dias, no
futuro que começa hoje.
Foi
feita uma citação de que no actual marasmo “o
problema são as pessoas”.
Queria dizer que certas obras importantes e estruturais para o Luso,
no tempo do ex-presidente Rui Marqueiro, não foram feitas por que
uma minoria levantou imensos obstáculos à construção. Quase
sempre, esta minoria, que escreve e utiliza as redes, é confundida
por maioria. É por esta minoria, do contra, que as coisas nunca
avançam.
E
rematou implicitamente com algum desdém: “esta
gente que escreve, nunca fez nada pela sua terra. Nem uma festa é
capaz de fazer”.
Confesso,
fiquei com as orelhas a arder. Se a mensagem não era para mim, seria
para alguns como eu.
No
final, em contraditório, ainda balancei em ter com ele uma conversa,
mas declinei a intenção.
…
Se
falasse, ter-lhe-ia dito que o excelente seria haver muitos cidadãos
a escrever sobre os problemas da sua terra…
…
Se
falasse, dir-lhe-ia que quem escreve “pro
bono” – sobretudo
com honestidade, equidade, neutralidade, desligado de interesses
partidários e unicamente focado no desenvolvimento local – exerce
um “metier”
que, para além de ser um direito consignado na Constituição da
República Portuguesa, só lhe traz aborrecimentos…
…
Se
falasse, lembrá-lo-ia que a escrita interventiva, sendo em forma de
opinião, comentário, críticas positivada ou negativa, é uma das
formas de democracia participativa...
Se
falasse, recordar-lhe-ia que quem escreve, visando a alteração do
injusto para o justo, não procurando recompensa, o faz porque gosta
de intervir na sociedade…
…Se
o encarasse, far-lhe-ia crer o quanto o escrever é o “respirar”
para quem o faz. É uma necessidade básica. Ainda que incompreendido
pelos mais chegados, por mais que tente fugir, dificilmente consegue
evitar. A escrita, para estas pessoas, funciona como uma catarse, um
encontro emocional consigo mesmo...
…
Se
trocasse ideias com este vogal, dir-lhe-ia que, maioritariamente,
quem explana ideias no papel raramente dá um grande político-
recordemos o emérito Vasco Pulido Valente.
Mas,
como em tudo, há excepções: lembremos Winston Churchill
(1874-1965), primeiro-ministro britânico durante a Segunda Grande
Guerra, excelente escritor de vários livros e laureado com o prémio
Nobel em 1953…
…
Se
tivesse tido uma amena cavaqueira com o cavalheiro, ter-lhe-ia dito
que, se aspira a outros voos na política autárquica, não demonstre
desprezo por quem escreve chamando atenção para, por vezes coisas
diminutas, isto e mais aquilo. Lembre-se que é esta minoria que,
materializando o seu pensamento com ideias e planos visionários, vai
servir de motor para a sua eleição.