Poderemos considerar que a Revolução de Abril de 1974, como qualquer insurreição política, operou na sociedade portuguesa, na sua organização, um corte horizontal com o passado em cinco pilares fundamentais, nomeadamente, a Segurança, a Saúde, a Educação, a Economia e o Conhecimento.
Contrariamente, já a História é um “continuum”, uma série de acontecimentos sequenciais e ininterruptos, e não pode ser apresentada de outro modo. Da História intrinsecamente, fazem parte, em sentido literal, o Homem com “H” grande, notável por feitos heróicos, e o homem com “h” pequeno, responsável por atrocidades e grandes genocídios mundiais. Por mais que não se queira atribuir relevância à cronologia, não é possível amputar, apagar do rol de ocorrências, o pretérito, que não mais não é do que o sustentáculo do presente e a semente do futuro.
No caso, tratarei apenas de ligações que, com encadeamento e na maior ligeireza e subjectividade, tentem explicar a Educação que marca os nossos dias.
Em anteriores apontamentos aludi que a geração de 1950/60 – a denominada geração “Baby Boomers”, assim classificada por ser responsável pela alta fecundação de recém-nascidos e ter contribuído para o aumento da Demografia -, sendo uma criação muito sacrificada, numa mudança digna de admiração, veio a proporcionar tudo o que não teve aos seus filhos,
Havia, porventura, três classes na pirâmide social: a rica a remediada e a pobre.
A rica, maioritariamente, estava concentrada na cidade onde imperavam os grandes grupos económicos e as corporações, como exemplo, os comerciantes e os industriais. A classe remediada era constituída por funcionários públicos, lojistas com pequenos estabelecimentos de mercearias, tabernas, drogarias e ferragens e outros ramos. A classe pobre, totalmente analfabeta, mais de metade da população portuguesa, era constituída por todos os assalariados por conta de outrem no sector privado.
Relembra-se que a Emissora Nacional começou as suas emissões regulares de Radiodifusão em 1935. A televisão, com emissão em Portugal, nasceu em Março de 1957. De salientar que, sobretudo na classe pobre, pelo elevado preço, estes instrumentos de comunicação eram inacessíveis a muitas famílias. Assim como o frigorífico, hoje um instrumento essencial comum a qualquer lar, era um bem escasso.
Claro que a razão desta estirpe societária ter dado tudo aos filhos, essencialmente, germinou na mudança abrupta, em incisão, do sistema político. Com a passagem de estado autoritário, ou ditatorial, para democrático, esta alteração, na noite para o dia, mudou completamente a economia e, na subsequência, o viver social.
De repente, o ordenado “mínimo” - este conceito viria a surgir muito mais tarde – passa de pouco mais de mil escudos mensais (5 euros, hoje) para 3,300$00 (16,50 Euros, hoje). Este reforço salarial inopinado, entre outros fenómenos, como uma inflação galopante, levou a um aumento desmesurado na Procura e com a Oferta a não corresponder à ansiedade da população. Assistiu-se a um esgotamento pleno de produtos não perecíveis para venda, com entrega dos bens ao consumidor a prazo de mais de três meses.
Estavam lançadas as bases para uma classe-média, agregando os remediados e parte da parte dos mais pobres.
(CONTINUA)
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