Cai a folha, o Outono bate à porta,
larguem tudo, vá, deixem-no entrar,
olhamos o verão como natureza-morta,
faz-nos velhos, o tempo, põe-nos a chorar,
a paz sentida interior pouco nos conforta,
os cabelos prateados estão a soçobrar,
mais umas rugas na fronte, parecem tortas,
a barriga, mais saliente, tende a aumentar,
os lapsos florescem como grama em horta,
A economia, em queda, começa a preocupar,
o futuro dos vindouros é o que mais importa,
os velhos estão a morrer, isto dá que pensar,
a família está em crise, a prole aborta,
os filhos incógnitos tendem a reforçar,
os jovens, perdidos, já não são a comporta,
os defuntos, sem familiares, vão a sepultar,
recordações de infância é o que nos suporta,
temos ainda confiança na vida que nos restar,
a esperança é dinâmica, como em Lua absorta.
II
Maldito corona, meu grande ladrão,
roubas a humanidade, cortas no amor,
furtas o sorriso, o beijo, matas a união,
crias o ressentimento, passas a censor,
aos pobres, coitados, retiras-lhe o pão,
tiras a alegria, provocas miséria e dor,
generosamente, ofereces um caixão,
por ser pouco, friamente, dás uma flor,
favoreces todos os ricos, geras inflação,
semeias a morte, pareces um condor,
lá em cima, vês a presa como dragão,
trazes infecção com tremendo horror,
espalhas o medo, a poucos dás a mão,
nem os santos nos valem neste rancor,
és a guerrilha que espalha a destruição,
os políticos, calculistas, rufam o tambor,
cerceiam a liberdade em nome da nação,
geram-nos sofrimento com tanto desamor,
tu serves para tudo, meu grande cabrão!
O Outono está aí, o Verão é um sol-pôr.
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