Imaginemos, somos turistas em trânsito pela
cidade e decidimos hoje visitar o Convento de Santa Clara-a-Velha. Depois de atravessar
a pé a ponte sobre o Mondego, estamos agora em frente ao claustro refundado
pela Rainha Santa, com licença da cúria papal de 1314, onde instalou o Mosteiro
de Santa Isabel da Ordem de Santa Clara. Olhamos em volta e constatamos um
manifesto abandono, sobretudo pelas ervas crescidas nas zonas verdes. Todos os portões
se encontram fechados. Naquele momento nem um único visitante está dentro do
espaço histórico o que nos leva a concluir que se encontra encerrado. Um bocado
perdidos, a cerca de mais de uma centena de metros vemos lá ao fundo um espaço
envidraçado e com pessoas no seu interior. Damos por entendido que está mesmo
cerrado e damos meia volta. De repente somos atravessados por um pensamento: mas este não é um dos mais importantes
monumentos da cidade? Não lemos há uma década que foram gastos milhões de euros
para secar a sua nave? Não, não pode ser! Esta abadia não pode estar encerrada ao público.
E voltamos para trás à procura de uma indicação. Bem nos parecia! Surge então
um pontão, meio disfarçado e sem dar nas vistas, a indicar que o acesso é feito
pela Rua das Parreiras. Mas nós não somos de cá! Onde ficará situada esta
artéria? Bom, deve ser lá longe no edifício transparente a vidrado, pensamos. O melhor é
mesmo arriscar e começamos a rodear o terreno murado. Entramos numa ruela de terra
batida com crateras cheias de água e emolduradas por arbustos a fazerem lembrar
a selva amazónica. Como se estivéssemos a jogar à macaca, vamos saltando de
coágulo em coágulo em busca da entrada perdida. Mas não desistimos. Se Deus
quiser e com ajuda da Rainha Santa Isabel havemos de chegar ao ingresso
localizado na invocada Rua das Parreiras.
E chegámos mesmo. Transpomos o
primeiro portão abobadado. Não há ninguém para informar. Pelas muitas pedras
recolhidas em trabalhos arqueológicos, mais que certo, estaremos no bom
caminho. Sempre levados pela intuição, chegamos à bilheteira, que é junto do
bar panorâmico que se estende sobre a paisagem de construção medieval. Num
balcão de informações, duas senhoras de meia-idade, muito simpáticas, por acaso,
e que não recordamos o nome, ostentando no peito um pequeno identificativo onde
consta a sigla do IEFP, Instituto de Emprego e Formação Profissional, o que nos
leva a supor que serão desempregados de longa duração e a desempenharem funções
que deveriam ser específicas e atribuídas a pessoal especializado. Solicitamos
dois bilhetes. Custam 8 euros. É-nos dito que dentro de pouco tempo, numa
pequena sala em anfiteatro, vai começar um pequeno filme, de cerca de quinze minutos,
sobre a história de toda a edificação começada em 1239 por Mor Dias e antes da
refundação por Isabel de Aragão, mulher de Dom Dinis, e que, pela sua piedade e
entrega à causa dos mais desfavorecidos, viria a ser beatificada em 1516 e
posteriormente canonizada em 1742. Conjuntamente, cerca de meia dúzia de
espectadores assiste a uma isenta e boa película com legendas em inglês e
faladas em português. Faz-nos alguma confusão as legendas em estrangeiro.
Perguntamo-nos se acaso forem turistas alemães e não dominarem a língua
britânica? Custará muito dinheiro ter na sala vários auscultadores com
gravações em várias línguas e manter o filme apenas em português?
Depois, à vontade, entramos em vários
compartimentos onde, através de iluminuras pregadas na parede, se explica a
história das ordens religiosas ali implantadas e também várias peças, em faiança
e pedra autenticam o passado. E saímos em direcção ao edifício central que dista
dali cerca de uma centena de metros. Pela erva crescida lembramo-nos que, para
poupar mão-de-obra humana, poderia ser ali colocado um rebanho de ovelhas.
Faz-nos alguma impressão o desleixo da envolvente. Junto à entrada, no meio do
lajeado várias ervas teimam em irromper. E penetramos no monumento
cujas pedras mantém a vivência da Padroeira da Cidade. Umas cadeiras, prontas a
receber pessoas, permanecem vazias e um LCD mostra imagens silenciosas. O desmazelo
é latente, abraça-nos e provoca-nos dor. Duas estrangeiras dão saltos para captar a melhor
fotografia. Não há nenhum funcionário a vigiar. Se é certo que os vândalos não
pagam para destruir, também é certo que qualquer um dito socializado pode
passar-se e, pelo à vontade, pode arruinar o que quiser. Ninguém impede alguém
de o fazer. E num percurso repetido voltamos ao bar.
Em resumo, dá para ver, ali o que conta é poupar pessoal. Deixamos uma pergunta de rectórica:
por que não se transfere a entrada para o mosteiro, incluindo o filme
explicativo a passar no LCD e propagandeado no seu interior, e se faz então a saída
pela Rua das Parreiras?
ILÍDIO FERREIRA LOPES deixou um novo comentário na sua mensagem "OS LABIRINTOS DE ACESSO AO MOSTEIRO":
ResponderEliminarOlá Luís.
Já tive o privilégio de visitar o mosteiro, que achei bastante interessante e muito bem recuperado, mas também não foi nada fácil encontrar o caminho certo para chegar.
Fui com a minha esposa e lembro-me já na altura comentar com ela: um mosteiro destes merecia uma entrada mais acessível e melhor sinalizada!
Mesmo assim tive mais sorte do que tu, pois não tive que evitar poças de água porque na altura não chovia.
Um abraço
Ilídio Lopes
Filadelfia
USA