quinta-feira, 10 de setembro de 2009

POEMA PARA UM CARTEIRO





Percorre a cidade,
ruas, becos e praças,
já não transporta a saudade,
de tempos de tantas Graças;
A menina em sofrimento,
com a alma despedaçada,
já não procura o alento
para ler na carta amada;
Já ninguém sabe escrever
um poema em carta manual,
muitos menos sabem ler
que o amor é paixão fatal;
Está tudo em transformação,
pensa o Francisco, carteiro,
o progresso é uma ilusão,
só importa namorar o dinheiro;
Pode ser tudo mais facilitado,
a despedida ser fria, sem calor,
através de um “sms” formatado,
mas não tem o mesmo valor;
Pode ser que a menina nem note,
a vida tem mesmo de continuar,
talvez até pouco lhe importe,
afinal, só conhece o que vê o seu olhar;
E o carteiro é apenas um distribuidor,
já não é amigo, confidente, de aconselhar,
já não entrega belas cartas de amor,
antes, pior, traz facturas para pagar;
Para muitos é salvação de momentos,
no vale-postal do Rendimento Social,
deixou de contribuir para casamentos,
agora, a prazo, é uma espécie de Pai-Natal;
Já não toca duas vezes ao chegar,
certamente, pouco tempo vai correr,
é mais uma profissão para apagar,
em tempos que não se dá pelo morrer.

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