terça-feira, 15 de setembro de 2009

O PORTUGAL DOS GRANDALHÕES



 Ontem, na RTP1, foi o debate, no programa “Prós e Contras”, dos pequenos partidos que compõem o universo partidário do país.
Quase uma dúzia de “pequeníssimos” partidos, representados pelos seus principais “cabeças de lista”, durante mais de duas horas, debateu os seus pontos de vista políticos para o país.
Se a maioria não traz nada de novo, quanto a mim, pelo menos quatro destas pequenas organizações partidárias muito poderão proximamente vir a enriquecer o combate entre os dois maiores (PS e PSD) e os três médios (CDS/PP, Bloco de Esquerda e PCP).
Para não entrar em discriminação, não vou enunciar os quatro que considero que no futuro muito terão a dar ao país. Gostaria, antes, de focar a injustiça que todos estes pequenos partidos sofrem, sobretudo, por parte dos “media”.
Falando do debate de ontem, foi notório a pobreza de possibilidades de intervenção destas pequenas forças políticas. O canal público presta um mau serviço ao desenvolvimento partidário. É um absurdo, durante uma eleição tão importante para a Assembleia da República, apresentar todos juntos, “ao molho e fé em Deus”, como o fez ontem. É um escândalo a forma como, em grande dificuldade, se puderam exprimir –os que puderam- ontem numa televisão pública que é paga por todos. Não é só o coarctar da liberdade de expressão destas pequenas facções que está em causa. É sobretudo o limitar aos eleitores o conhecimento de novas propostas políticas. É como se se aceitasse, a bem de todos, em escolha de alguns, que o que é bom para os portugueses é votarem apenas em cinco partidos, que foram os que mereceram a honra de, durante uma semana, serem os seus programas esmiuçados e debatidos nas várias televisões, pública e privada.
Que os canais privados tenham em conta o “share”, os níveis de audiência, até se entende. Até porque os debates foram negociados entre os líderes dos dois maiores partidos, o PS e o PSD. Afinal, os canais generalistas, são empresas e vivem da publicidade e da rendibilidade que os programas rendem. Quanto a este ponto de vista, creio, estamos todos de acordo. Agora, a televisão pública, a RTP1 e RTP2, não pode entrar nesta lógica de viajar nesta bitola que conduz à obliteração e ao desconhecimento de todos os telespectadores, muitos deles eleitores que votarão no próximo dia 27. Como alguém disse ontem no debate, parece que “alguém”, abusando do seu direito, antecipadamente, escolhe por nós os partidos em quem devemos votar. E aqui, o que é curioso, é que passamos, todos, a vida a lamentarmos e a repudiarmos este sistema bipolar que nos rege –e que, pelos vistos, nos querem impingir. Argumentar que nos boletins de voto estão impressas todas as várias forças concorrentes e logo há igualdade é pura demagogia.
Que serviço público de televisão é este? Pergunto eu, que, sem prosápia, sou mesmo muito ignorante. De tal modo que ontem, perante o programa, me apercebi de forças políticas no activo que considerava mortas e enterradas nos confins da terra revolucionária do 25 de Abril. Não tenho dúvida nenhuma em percepcionar a quem interessa este “status quo”. E, por aquilo que antevejo, é uma situação que já vem de longe, já com barbas crescidas.
E o problema, para complicar ainda mais, não é apenas da televisão. Viram em algum jornal diário ou semanário o programa de alguns destes partidos? Por exemplo, hoje, estive a dar uma volta em todos os diários nacionais e nem uma referência vi, em apontamento, ao debate de ontem. Admito que possa estar enganado. Mas há aqui qualquer coisa que ofende o equilíbrio imprescindível, a equidade necessária para uma livre escolha a uma eleição nacional, tendo em conta a importância que este sufrágio atinge para o país.
Estes pequenos partidos já não fazem campanha porque, como não elegem deputados, não recebem dotações do Orçamento Geral do Estado. Não distribuem panfletos ou afixam outdoors pelo mesmo motivo. Se a imprensa os despreza, através do esquecimento intencional, como podem eles fazer chegar a mensagem a um novo eleitorado? Estamos perante a mais vil e sórdida discriminação perante forças políticas.
Se os próprios partidos com vocação parlamentar discriminam os seus próprios pares, entre pequeníssimos, pequenos e médios, com a sua sombra, levando-os ao esquecimento, quando, em discurso contínuo eleitoral, se referem às “pequeníssimas”, Pequenas e Médias Empresas, que é preciso ter em conta a sua importância, alguém crê que possamos acreditar neles?
Hoje, infelizmente, vive-se num Portugal majorado, onde só o que é grande aos olhos conta. Onde ficarão as pequenas coisas, o pequeno riacho, a pequena aldeia, com a ruela calcetada com pedrinhas, o pequeno universo que deu ao mundo português tão grandes homens? Em lado nenhum. Eu sei! Esse Portugal dos pequenitos, verdadeiramente, só existe em Coimbra.