sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O DIÁRIO AS BEIRAS E A MALDIÇÃO DE JOÃO BRANDÃO






João Brandão -1825-1880- foi um salteador português que ficou conhecido como o “terror das Beiras”.
Ainda hoje continua sem se saber se foi um bandido, um revolucionário ou guerrilheiro. A única coisa que se julga saber é que este homem, acompanhado pelos seus irmãos, varreu as Beiras a ferro e fogo. Dizem que depois de deportado para o exílio em Angola, onde veio a morrer em Setembro de 1880, o seu espírito, como alma-penada, continua atormentar as terras serranas e qualquer coisa ou empresa que contenha o logos de “Beiras”.
Hoje, na secção de “Opinião”, no Diário as Beiras, em direito de resposta, “A Administração da Metro Mondego, encabeçada pelo seu presidente Álvaro Maia Seco e Carlos Picado vem esclarecer os leitores que o que veio transcrito no dia 4 de Setembro, no jornal, e dado como afirmado, e escrito pelo jornalista, afinal “o texto da notícia possui algumas afirmações que, em particular se retiradas do seu contexto, não revelam para o leitor o que efectivamente se passou na sessão de apresentação do projecto do Sistema de Mobilidade do Mondego, na sede da ACIC”. Pode ler aqui as afirmações publicadas pelo jornal.
Para além disso, vem o presidente do Metro ameaçar com tribunal o jornal de Taveiro, caso este, ao abrigo da Lei de Imprensa, não satisfizesse o direito de resposta. Isto é, caso o diário não viesse a publicar a extensa missiva. Está-se mesmo a ver que o director António Abrantes e Eduarda Macário, subdirectora, perante esta ameaça velada, pararam logo as rotativas do jornal e, a correr, foi logo impresso. Não fosse o diabo tecê-las.
Convém esclarecer que Álvaro Maia Seco concorre pelo Partido Socialista, como candidato à Câmara de Coimbra, e que, em ambos os casos, são a mesma pessoa.
Mas afinal o que vem o presidente da Metro Mondego e candidato à autarquia esclarecer? Pois, é aqui que entra a maldição de João Brandão. Tudo indica que este espírito malvado, em encosto, anda a atormentar os jornalistas do nosso querido “diário da Lena”, parafraseando um colega-blogue aqui ao lado. O leitor, aposto, para além de já estar a tremer porque é supersticioso, está curioso. Mas, calma que estas coisas de fantasmas têm de levar tempo. Na época deles, em que viveram, se por um lado era tumultuosa, por outro, o tempo real, factual, era medido por ampulheta ou relógio de sol. Por isso tem de ser tudo contado ao ralenti, como se estivéssemos a seguir a sombra projectada pelo astro-rei. Não porque já não houvesse muitos relógios mecânicos mas, para esses luxos, só os fornecedores de João Brandão poderiam exibi-los nas lapelas.
Antes de mais vou falar, então, na praga rogada ao jornal e que anda a deixar muito preocupada a direcção. E tem razão. Se fosse comigo seria igual. Aliás, se fosse comigo, eu já teria ido mesmo à bruxa. No espaço de poucos meses são dois casos com o mesmo contorno. Tudo indica que estamos mesmo perante uma coincidência.
O primeiro caso aconteceu com as declarações de Vitália Ferreira ao Diário as Beiras. Há poucos meses, no Tribunal de Coimbra, perante a juíza, esta senhora, incomodada pelo barulho do bar da Associação Académica, negou que à jornalista tivesse feito as declarações transcritas no jornal.
Agora, com este caso de Álvaro Seco, estamos perante uma repetição. Ou seja, eu explico –porque ainda não contei, mas em coisas do sobrenatural, vulgarmente conhecidas como manifestações de Parapsicologia, estou à vontade. Se não sou especialista andarei lá muito próximo. Palavra de honra, trato as almas penadas por “tu cá, tu lá”.
Ora assim sendo, depois de por momentos, em transe, ter incarnado João Brandão -depois de descansar que estou arfante-, vou então esmiuçar este estranho caso das palavras ditas mas não ditas.
É assim: os declarantes dizem mesmo o que vem transcrito no jornal, isso tenho a certeza –ou não fosse eu uma autoridade na matéria. O problema é que logo na noite a seguir às declarações o malvado do espírito de João Brandão, durante o sono inocente destas pobres almas que mal não fazem, mal não pensam, vai apoquentá-las e taxativamente, imperativamente, ordena: “olha lá, tu não disseste o que vai ser transcrito no Diário as Beiras, estás ouvir? Tu vais negar tudo. Tu nunca disseste aquilo. Aquelas frases são efabulação do jornalista, estás a ouvir, meu irmão?”.
Depois, no dia seguinte, acontecem duas coisas: os amigos dos visados, que também são todos apoquentados pelo espírito do Brandão, defendem com unhas e dentes as palavras ditas que nunca teriam sido ditas; e, só aquelas pessoas psiquicamente muito fortes de espírito, onde não chega o domínio do Brandão, embora poucas, mas mesmo poucas, é que então afirmam realmente o que se passou.
E aqui, neste caso da ACIC, é que tive mesmo muito dificuldade. Por várias razões: como este debate foi realizado às 17,30, só cerca de duas dezenas de comerciantes estiveram presentes. Já estão a ver a minha dificuldade, dá para ver, não dá? Onde vou eu desencantar um comerciante de espírito forte e não tomado pelo maquiavélico João Brandão?
Como mendigo, mais parecia o “Basillius” de Ceira, andei a percorrer toda a Baixa e ufa! Tenho a camisa toda encharcadinha. Nada. Ninguém ouviu nada –aqui por acaso dá para ver que as memórias das pessoas foram todas apagadas com uma borracha. Estou tão irritado com o espírito de João Brandão. Estou farto de discutir com ele. Mas, é evidente, um salafrário destes quer lá saber da minha boa moral.
Agora vejam a minha sorte. Já tinha uma sola rota de tanto andar–é a do sapato do lado direito, carrego mais, não sei porquê. Estava quase a desistir e a ser vencido pelo fantasma, quando me lembrei do Arménio Pratas, que é o presidente do Sector Comercial da ACIC. E se eu fosse falar com ele? Eu conheço muito bem o Arménio há mais de uma dúzia de anos. Sempre me pareceu um espírito livre e forte, daqueles que pensam pela sua própria cabeça. De certeza que o estrambilhado do João Brandão não teve hipóteses de entrar na mente do Arménio e manipulá-la. Não custa nada experimentar, pois não? Então vou lá. E lá fui eu para os lados de Santa Sofia –claro que a protecção da Santa também renega o maldito Brandão da mente do meu amigo Arménio. Lancei então a pergunta:
Arménio, tu, enquanto vice-presidente e presidente do Sector Comercial da ACIC, no dia 3 de Setembro, estiveste presente no Salão Nobre da associação comercial. Diz-me, é verdade ou não que Álvaro Maia Seco, entre outras afirmações que vinham no Diário as Beiras, ter dito que o tráfego automóvel não trazia nenhum valor acrescentado para a zona que medeia o centro da cidade?
Responde Arménio Pratas Henriques: “tudo o que vinha escrito no jornal foi dito e afirmado ao longo do debate na ACIC pelo presidente da Metro Mondego e candidato à autarquia pelo PS. Eu ouvi com estes ouvidos que a terra há-de comer”.
Toma lá espírito de João Brandão que já almoçaste!

2 comentários:

CarlosFreitas/ProsasVadias disse...

Ressuscitar o Brandão? Olhe se o Joaquim Martins de Carvalho sabe que o homem anda pelas ruas de Coimbra, sai saraivada n'"O Conimbricense".

LUIS FERNANDES disse...

Pois! Aí é que está o problema. É que eu creio (ainda estou a confirmar) que, primeiro, a Rua das Figuerinhas se transferiram para Taveiro. Está ver a coisa? Esta rua praticamente morreu. Portanto se considerarmos que as ruas têm vida...logo têm espírito, portanto ele teria de ir encarnar noutra zona qualquer.
Segundo, é muito provável que o revolucionário pela cidadania Martins de Carvalho incarnasse num capitalista mais soft...está a ver a coisa? Olhe que não sei mesmo. Que estamos perante coincidências...não tenho dúvida.
Abraço.