segunda-feira, 21 de setembro de 2009

EDITORIAL: EU E ALGUNS




Tenho para mim que a raça humana é, aparentemente, toda muito igual. De tal modo que, hipoteticamente, se a dividirmos em três grupos, aposto, olhando para o rosto de uma pessoa, falando telefonicamente ou escrevendo através do “msn”, é possível acertar em cerca de 70 por cento na forma de ser e estar na vida do analisado.
É evidente que dentro desta humanidade que nos cerca há derivas através da sua cultura envolvente. Isto é, um australiano, perante um determinado quadro visual reagirá de acordo com a educação e cultura apreendida. No entanto, creio, no tocante a sentimentos intrínsecos ao homem já responderá de forma igual; tais como a inveja, o ódio, a cobiça, o adultério, o homicídio, o furto simples, o falso testemunho, o idolatrar deuses –aqui, como deuses, entendo tudo o que seja, adição, como por exemplo, vícios de jogo, de sexo, de drogas, de consumismo obsessivo. Enfim, tudo o que nos escravize e, limitando a nossa liberdade individual, nos obrigue a seguir essa dependência e só alimentando-nos dela conseguimos tocar a vida para a frente.
Dentro desta idolatria, considero também o perseguir cegamente uma equipa de futebol, uma religião, um partido ou líder político sem questionar o fundamento, a génese, do dogma –ainda que possa ser paradoxal, porque dogma será tudo o que se aceita sem contestação. Um axioma –uma proposição que se admite sem demonstração- que não se questiona. E aqui reside logo o busílis da questão: como pode ser alguém livre se, sem interrogação catártica, sem introspecção, segue cegamente, alguém, ideologia, coisa ou estrutura, sem, em determinados momentos, pôr em causa essa verdade dita de incontestável?
Vem esta longa introdução para, se por um lado, tentar dizer que dentro desta igualdade tão mimética e tão igual, perante uma mesma situação, uma maioria reage de forma muito idêntica, por outro, quase em antítese, pondo em causa o que acabei de escrever, dizer taxativamente que nem todos somos iguais.
Continuando na abstracção filosófica, para no fundo dizer que o que se está a passar nesta campanha eleitoral é simplesmente absurdo. Parece que as pessoas que aspiram a cargos políticos perderam a cabeça. São os partidos às “turras”, com acusações mútuas, do maior “rasteirismo” medíocre. Em que vale tudo. Nestas guerras sujas de objectivos pouco claros envolvem-se a imprensa diária, com dois conceituados jornais –o Público e o Diário de Notícias- a, contrariamente ao seu objecto de divulgadores de informação, quererem, eles próprios, serem criadores das suas próprias notícias.
Como se fosse pouco, nesta guerra de poder, envolve-se também directamente o Presidente da República, com esta demissão de Fernando Lima do cargo de responsável pela assessoria para a comunicação social da Presidência da República. Quanto a mim, Cavaco Silva, contrariamente à assertividade, acalmia e equidistância que o seu cargo exige, com esta destituição intempestiva no calor da campanha acaba por vir envolver-se também directamente. Perdendo a sua independência, vem baralhar os (poucos) cidadãos que não se deixam abranger em golpes baixos e ainda acreditam nas instituições. É caso para perguntar: AFINAL O QUE É ISTO?
Toda a gente sabe que, progressivamente, temos andado todos a perder a fé nos políticos-partidários que nos querem fazer acreditar na sua bondade. Com esta demonstração do “vale-tudo”, com esta “serrabulhada”, como ficamos? Se o país está tão mal, porque se atacam ferozmente, em lutas fratricidas, para ascenderem ao poder. Será apenas para servir o povo? Alguém acredita nisto? Dá a parecer que estamos perante uma peça de teatro dramática. Em que nunca sabemos o que se vai passar a seguir. A qualquer momento, em cadência continuada, os actores principais, perante a nossa estupefacção, vão sendo aniquilados. Quem vai sobreviver no fim da peça? O carroceiro? O funcionário das cavalariças? A criada de quartos? Será um destes, em passe de mágica, que, perante tantas mortes de “faca-e-alguidar”, se vai transformar no príncipe encantado da decepção, no Don Sebastião, que vai salvar o terceiro acto da peça trágico-cómica, porque a vida tem de continuar?
Sinceramente, há muitos, muitos anos, já concorri numa lista de um partido para uma junta de freguesia. Não fui eleito. Noutros anos seguintes fui convidado e declinei sempre. Este ano fui sondado por duas vezes. Não aceitei E refiro isto porquê? Porque se aceitasse, iria para o lugar para ajudar pessoas, não para ajudar a resolver os meus próprios problemas. Entendo que ocupar um lugar político deve ser uma honra. Mas o servir a polis tem de estar acima de todas as coisas. Acima de todos os interesses pessoais. Se calhar, acredito, quem atingiu esses lugares, no início disse exactamente a mesma coisa que eu estou a dizer, e, com o tempo, transformou-se no pior que existe dentro de nós. Mas, a bem de todos, a bem dos políticos honestos –porque os há, não tenho dúvida-, esta rebaldaria não pode continuar. A “partidarite” esconsa, estúpida, cega, obsessiva, está a rebentar com a credibilidade da mais nobre e necessária arte de desenvolvimento da humanidade.
A política, hoje, perante o que se nos depara aos nossos olhos, não cativa quem vai por bem. A organização dos partidos, juntamente com a ambição desmedida de muitos filiados, que apenas lá estão como meros escravos “serventualistas” para ambicionarem lugares de topo para se servirem na sua desmedida ambição. Verdadeiramente, estão a mostrar, sem disfarce, o quanto vil pode ser o homem.
Dá que pensar? É preocupante o que se vê à nossa volta. É como se estivéssemos a ser invadidos por uma nuvem de fumo tóxico. No meio do nevoeiro já nem os nossos melhores amigos se reconhecem. Vemos apenas umas máscaras difusas, uns vultos que se movem com esgares de olhar tresloucado, de alguém muito próximo que outrora conhecemos.

Sem comentários: