quinta-feira, 20 de novembro de 2008

UM METRO CURTO E SEM AMBIÇÃO


(COMO NUNCA PUDE IR A FRANKFURT, COM UM SORRISO MALANDRO, SURRIPIEI ESTA FOTO NO BLOGUE "PIOLHO DA SOLUM")


  De vez em quando o Rádio Clube Português (de Coimbra), tal como a outros ouvintes, pede-me para comentar temas diversos sobre a cidade. Hoje a pergunta era sobre o Metro Ligeiro de Superfície (MLS) e se concordava com o seu traçado.
Tal como afirmei no programa em directo, volto a reiterar, para além do que leio nos jornais, pouco sei. Uma coisa é a informação, outra é o conhecimento, o “mergulhar” no processo. Por outras palavras, digo aqui com humildade, sou um comentador de “trazer por casa”. Daqueles que embora tendo uma opinião é pouco credível pela sua ligeireza.
E o que disse eu sobre o Metro, interroga você, com alguma curiosidade, sobre o que pensa o comentador “expert” generalista?
Como já o pensava antes, não me foi difícil dizer que este plano de ramificação do MSL é pouquíssimo ambicioso. E esta falta de ambição, em minha opinião, vai ser-lhe fatal.
Coimbra é uma cidade demasiadamente instável em fluxos de pessoas. Os seus habitantes, na maioria residentes estudantes (cerca de 40.000), são ambivalentes: de Segunda a Sexta-feira vêm de fora para dentro, como se o centro da cidade fosse o seu núcleo central de atracção, e de Sexta a Domingo à noite a cidade fica deserta e reduzida à sua ínfima condição de urbana dependente do sub-urbano. Então e isto quer dizer o quê? Quer dizer que para um investimento de milhões ser viável terá de funcionar todos os dias. Pois!, pensa você, mas se a cidade é assim como é possível inverter a convergência de pessoas?
Seria possível se este MSL não fosse um projecto de “dentro para dentro”. Contrariamente, deveria ser um plano abrangente, em que abarcasse os concelhos limítrofes, de fora para dentro da cidade. Deveria ter sido criada uma zona metropolitana (o nome é irrelevante) que, numa espécie de círculo em torno do concelho de Coimbra, assimilasse as localidades da Mealhada, Cantanhede, Montemor-o-Velho, Granja do Ulmeiro, Soure, Condeixa, Lousã e Mortágua. De modo a trazer pessoas destas áreas circundantes para Coimbra.
Como é um projecto megalómano criado para uma grande cidade e não propriamente para uma média cidade com um concelho de cerca de 140.000 habitantes, ainda para mais de afluxo migratório inconstante, o seu tempo vindouro –sem querer ser ave de mau agoiro- terá o mesmo futuro que o MSL de Mirandela. Ou seja, uns milhões de défice mensal para acabar inactivo.
Porque é que será megalómano?, e não sou original a escrevê-lo, é que estas cidades médias em vez de apostarem numa boa rede de transportes públicos, se possível, não poluentes, conservando a sua originalidade, na simplicidade, querem o impossível, e depois quem vai pagar a factura é o “povo”, ou seja, toda a imensa massa abstracta de contribuintes futuros.
E, no tocante a transportes urbanos, o que é que se tem feito em Coimbra? Acabou-se com os eléctricos, quase se extinguiram os velhos tróleis, e o que resta são os autocarros…que servem mal as localidades limítrofes.
Nos últimos anos, em políticas de transportes, a cidade tem andado ao “deus dará”. Por um lado tem-se apelado a que não se traga carro para o centro, mas, antagonicamente, os transportes colectivos servem mal, e, por outro lado, incompreensivelmente, assistiu-se, nos últimos anos a uma desenfreada construção de parques de estacionamento na Baixa. E continuam mais em construção. E não é tudo: é que a maioria, por ser muito caro, maioritariamente estão vazios. E mais: durante a noite estão às moscas, quando, se fosse contratualizado pela autarquia, deveriam servir para os moradores da Baixa terem os seus automóveis. Não faz sentido ter os veículos espalhados pelo centro histórico quando, à noite, os parques subterrâneos são fantasmas de ninguém.
Como se sabe, proximamente estão previstos mais dois, um na Praça da República e outro na Praça D. Dinis, junto à Universidade. Faz sentido isto? Se calhar faz, eu é que sou mesmo do contra…nada me contenta.
Ainda referente à construção do traçado do MSL pela Baixa, o corte, com a demolição de casario medieval, entre o Largo das Olarias e a Praça 8 de Maio, num centro histórico como Coimbra, foi simplesmente criminoso.
Quanto ao traçado em si, e de acordo com o meu vizinho, o blogue “Piolho da Solum”, penso também que se a sua passagem nas Ruas General Humberto Delgado e D. João III contribuírem para retirar tráfego automóvel é óptimo, se for aumentar a confusão o futuro, naquela zona, será andar ao centímetro.
Eu sei que estou a ser longo, como sempre, mas ainda digo mais, com a futura construção da Estação B a norte, tudo indica que a Estação-Nova irá ser desmantelada ao tráfego ferroviário. Se disser que este acto vai ser catastrófico para a Baixa, tenho a certeza que não exagero.
Há cerca de um ano, um amigo meu, “um granda maluco”, deu-se ao trabalho de um dia da semana, das 06 às 10.00 horas, contar as pessoas que “aportam” nesta Estação A de Coimbra. Sabem qual foi o número impressionante a que chegou? Segundo as suas contas, cerca de 3.000 utentes dos comboios afluem ao centro da cidade. Alguém já pensou nas consequências para a Baixa da supressão deste histórico “cais” de embarque e desembarque?

1 comentário:

Anónimo disse...

«E, no tocante a transportes urbanos, o que é que se tem feito em Coimbra? Acabou-se com os eléctricos, quase se extinguiram os velhos tróleis, e o que resta são os autocarros…que servem mal as localidades limítrofes.»

Torna-se dificil melhorar a rede de tranportes urbanos, quando o estado não dá um único centimo de apoio aos SMTUC, que apenas têm ajuda da camara. O estado dá dinheiro á Carris (Lisboa) e STCP (Porto), e aos SMTUC dá 0€.

Em relação aos tróleis, fique sabendo que não estão em extinção (ainda á pouco tem fizeram a linha 60, para S. José), e mais uma vez o problema é o dinheiro, pois um trolei custa 4 vezes mais que um autocarro normal e os SMTUC não nadam em dinheiro.

Sobre o metro, acredite que é muito importante para a cidade. Não pode apenas contabilizar a população de Coimbra, tem de contar tambem com a população de Lousã e Miranda do Corvo. A linha da Lousa precisa de ser modernizada, e o metro vem permitir isso, acabando assim com a velha e poluente automotora que faz actualmete o seriviço Coimbra - Lousa.
Claro que o traçado de inicio é um pouco limitado, mas que poderá ter alargamentos futuros para outras zonas como Condeixa, Taveiro, etc.