sábado, 29 de novembro de 2008

UM DIA DE CHUVA





Hoje a cidade está macilenta
as pessoas “correm”, encolhidas,
olham as pedras do chão, tolhidas,
a sua disposição está cinzenta;
Não se vê uma cara com um sorriso,
no casaco albergante arrumaram a alegria,
concentrados na chuva e no frio que fazia,
como se, em flocos, caísse uma nuvem de siso;
No guarda-chuva, dogma de fé, fizeram protector,
pouco importa se passa um qualquer farsante,
um vendedor do Borda d’Água, um talhante,
que “pique” o monstro, a solidão, esse Adamastor;
Nem as bolas azuis, no céu de esperança, deste Natal,
nem o “espírito” de Bocage, presente, junto ao café Nicola,
parecem fazer acordar a gente que passa, sem ligar “bola”,
caminham embrulhados com a chuva, não têm tempo, nem faz mal;
A rua está triste, está muda, só o bater das botas ecoa na calçada,
nem um som rogado de um pedinte se ouve: “uma moedinha senhor”,
nem uma concertina, nem uma trompete aquece o frio com calor,
como se o inverno fosse inimigo de quem precisa, fosse uma maçada;
No largo, o “mata-frades”, de costas para a heresia, parece escrever,
olha as nuvens negras, apreensivo, não sabemos bem acerca de quê,
vai passar ao papel, com a pena, talvez seja entendível para quem lê,
provavelmente pensa na justiça, na insegurança, neste entreter;
A cidade, não dando nada, continua a ser a Meca da esperança,
centro de confluência, núcleo de atracção, entre rico e indigente,
todos abandonaram tudo pelo“eldorado”, miragem de tanta gente,
correm na rua, não sabem porquê: é algo que não se alcança;
Secos de fé, não vêem o Natal, muito menos o menino, em essência,
autómatos, vão em frente, sem rumo, como caminheiro errante,
agora, nestes tempos, o seu “Deus” é económico, esse tratante,
não olham para Ele como salvador do espírito, é a sobrevivência.

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