terça-feira, 18 de novembro de 2008

ELEGIA A MANUEL ALEGRE



Às vezes olho para ti Manel,
olho os teus olhos tristes cor da solidão,
sei que sofres, mas da dor tu fazes mel,
saberás, porque não é alegre o teu coração?!;
Imagino o teu sentir perante o sofrer alheio,
choras como uma criança desamparada,
és forte, e mesmo que te rachem ao meio,
nunca apontas nem denuncias um teu camarada;
Pelas tuas mãos se esvai o teu homógrafo Portugal,
sendo ateu confesso, pensas e julgas ser castigo divino,
tanto lutaste a desbravar palavras, até te parece mal,
confessares a tua incapacidade, e sentires-te pequenino;
Hoje, todos querem ser ouvidos, ninguém escuta ninguém,
de que vale gritar, reivindicar, se cada um só se quer ouvir a si,
num mundo globalizado, tudo igual, em que ninguém é alguém,
interrogas: “a minha luta, o meu exemplo, serviu de algo para ti?;
A tua alma está reflectida nas águas do Águeda, nas suas imagens,
nos seus salgueiros, num pássaro que observa a sua aparente acalmia,
assim és tu Manel, um inconformado, que transborda as suas margens,
ninguém te tome pela aparência, és um guerrilheiro prenhe de rebeldia;
És um vulcão inactivo, mas que a qualquer momento entra em erupção,
por uma causa, corres mundo, fiel ao teu princípio, leme do teu viver,
não acreditas no homem, és um céptico, mas crês na convicção,
ela há-de ser a mola, impulso da vida, que transcende o próprio morrer;
Idealista, dividido entre a derrota desvalida e a euforia da vitória,
um cavaleiro andante, um resistente na defesa fraterna da igualdade,
odeias a ditadura unanimista, o autoritarismo de Estado -essa escória!,
não abdicas na luta contra a opressão e pugnar pela nossa LIBERDADE.

Sem comentários: