segunda-feira, 11 de junho de 2007

SÓ QUEREMOS O QUE NÃO TEMOS

SÓ QUEREMOS O QUE NÃO TEMOS
Eu vi uma mulher chorando,
de mãos erguidas para o ar,
perguntei-lhe o que pedia,
porque estava ela rezando;
Respondeu-me a soluçar,
só pouca sorte merecia,
que nem mesmo muito orando,
Deus teimava em não ligar;
Sendo tão linda e tão bela,
porquê tanta tristeza,
“Quero um filho, tenho de o conceber",
um rebento dela e só para ela;
que lhe desse uma certeza,
de que valia a pena viver,
queria abrir uma janela,
fustigar o vento, na sua leveza,
germinar o fruto, um dia, quando morrer;
“Eu tenho dois e dava-lhos sem preço”,
respondi com raiva e apatia,
como pode alguém lamentar a sorte de não os ter,
“tê-los foi, um preço a pagar, todo o infortúnio que mereço,
como vê o azar de uns, é a sorte de outros, em qualquer dia”;
Começam por ser a ponte que une as margens do dissenso,
depois o choro, o começar a andar, o falar e dizer papá,
crescem, tornam-se ditadores, fazem birras, começa a divisão,
aos poucos, nasce um clima espartilhado, vai-se o consenso,
pai e mãe, cada um a puxar para si, é o princípio do deslizar; a separação.

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