sábado, 2 de junho de 2007

ELEGIA A UMA CEREJA

ELEGIA A UMA CEREJA
Era uma vez uma Cereja…
Tão brilhante, tão madura, madurinha,
tanta calma, tanta lucidez… salvo seja,
a proteger as cerejas verdes, parecia uma galinha;
A Cereja madurinha ficara na árvore desde a última safra,
no mesmo ramo, nasceu outra pequena cerejinha,
na grande árvore fruteira, Cereja madura era como o Convento de Mafra,
tão pequena para o mundo, tão enorme para quem com ela vivia, uma queridinha;
Mas Cereja madurinha tinha um segredo: sofria de solidão,
olhava as cerejinhas verdinhas e sentia que estava a envelhecer… sozinha,
os homens, todos a queriam comer, mas Cereja tinha um filho e eles: NÃO!
E Cereja, doce fruta, palmarés de eleição, tão excitante, chorava coitadinha;
“Ninguém me quer, ninguém me ama, só me querem saborear,
preferem as verdes, ainda que mais azedas, estão sós e são mais durinhas”,
na grande árvore, pejada de vida, cheia de fruta, um pássaro a chilrear,
e o homem, esse louco que só vê a rama, apanha as novas e olvida a mais velhinhas;
Pouco lhe importa a experiência, o brilho resplandecente, quer a fruta sem ser picada,
a mais madura, no universo da beleza, é apenas aquela que respeitamos…mas passou,
é ícone representativo, a mãe de todas as frutas, o doce desejo eterno de ser amada,
venerada pelas cerejinhas, todas a mimam, bela madura espera aquele que lhe calhou;
às vezes, em desespero, apetece-lhe saltar, não fosse o seu filhinho, e Cereja teria caído,
no universo da fruta, Cereja madura nunca cai, é eleita p’ro senado nesta falsa verdade,
frustrada, Cereja sonha, idilicamente, realiza o desejo de outra, mesmo o mais querido,
Cereja madura espera o príncipe, aquele que a vai comer, nesta vida, nesta universidade.


LUIS FERNANDES
COIMBRA)

Sem comentários: