sábado, 10 de outubro de 2015

FALECEU O JOÃO CARDOSO





O João José Cardoso faleceu esta noite. Homem de causas, sempre pronto a ajudar, controverso, teimoso que nem uma mula, comunista convicto que abraçava o seu ponto de vista mesmo que fosse o único a defendê-lo, era o amigo do seu amigo sempre certo mesmo que em tempo incerto. Activo militante do Bloco de Esquerda, foi sempre, na cidade, uma voz erguida contra o que considerava ser atentatório aos bons princípios comunitários. E respondia com bondade aos apelos sociais. Defensor de Coimbra e da sua história, da sua Baixa que abraçava de corpo e alma, a cidade era quase a matriz da sua existência. Era um escritor, blogueiro de conspiração, de excelência e as suas tiradas bem fundamentadas contra a maioria governamental ficarão para sempre plasmadas no blogue Aventar.
Conheci o Cardoso já lá vão décadas, mas convivi mais de perto com ele noutras lutas e sobretudo na defesa da Mata Nacional do Choupal quando, pelo Governo de Sócrates em 2009 e 2010, se pretendia fazer atravessá-la com uma auto-estrada. Graças a ele e a outras vozes que se ergueram contra aquela construção de cimento o projecto ficou pelo caminho.
Há cerca de duas semanas fui visitá-lo a sua casa, na Rua Ferreira Borges, e encontrei-o bastante combalido. Mal entrei no seu quarto, e no muito que lhe era peculiar, ordenou: “faz-me duas coisas: fala baixo e senta-te!”. Por adivinhar que não estaria para grandes conversas, estive pouco tempo na sua presença. À saída, reportando aos meus escritos, recomendou: “continua a malhar neles!”
No último fim-de-semana, há oito dias, portanto, tentei ir revisitá-lo mas já não consegui. Não insisti. Como fui vendo esta semana as suas curtas mensagens no Facebook, dei como certo que um lutador não se entrega facilmente à morte e esta teria que se esforçar muito para conseguir os seus intentos, e pensei que ainda estaria para durar. Infelizmente não foi assim e acabo de ler a notícia do seu falecimento.
Em nome de todos –se posso escrever assim-, dos seus muitos amigos aqui na Baixa, pelos camaradas, pelos seus opositores que não comungavam das suas ideias mas que o respeitavam, em nome dos seus muitos alunos da disciplina de história na Escola Secundária José Falcão, para a sua família enlutada, que foi coarctada tão abrupta e precocemente de uma vida cheia de vida para ajudar o próximo, os nossos mais sentidos pêsames. O seu funeral será realizado amanhã, Domingo, no Complexo funerário da Figueira da Foz cerca das 14h00. Até sempre, João José Cardoso!
Deixo aqui um pretenso poema que escrevi em sua memória:

POEMA DA DESPEDIDA

(Ouça aqui a versão musicada)

Olha bem, olha p’ra mim!         
Os meus olhos estão assim,       
alagados em mágoa e dor.        
Vais embora de partida,            
em serena despedida,               
sem deixar um acenar!             
É preciso te louvar,                   
em nome do recordar              
das causas que defendeste!     
Foi desgraça do destino,          
que em má hora e desatino     
neste dia te escolheu!              
Não quebravas na palavra       
vibrante de convicção,              
como o rufar dum tambor,      
fosse noite, ou qualquer dia,   
correndo atrás da utopia,         
foste sempre um sonhador.    

  



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