quinta-feira, 19 de maio de 2011

ADEUS MÃE





Minha mãe partiu sozinha,
sem um gemido a chorar,
tinha um brilho de velhinha
no seu tranquilo olhar;

Não levou nada consigo,
a não ser recordações,
deixa marca em fustigo
gravada em nossos corações;

Nunca se queixou da sorte,
fado que lhe calhou ventura,
pensou sempre ser recorte
de uma vida de amargura;

O viver que a si calhou,
fruto de um tempo espinhoso,
foi destino que agrilhoou
em inverno desgostoso;

Mesmo assim viveu feliz
no resto desta passagem,
foi cuidada como quis
em tempos de clivagem;

Sentirei sempre um pesar,
talvez porque fiz pouco,
é tarde para lamentar,
fica a dor em grito rouco;

Adeus mãe, até um dia,
um dia quando calhar,
com certeza de agonia,
lá nos iremos encontrar.




8 comentários:

  1. Só há uma,não é amigo?
    Luís,um grande abraço.
    Marco

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  2. Amigo Luis.
    Sentidos pêsames para si e restante familia.
    Peço desculpa não lhe ter dado um abraço de grande amizade.
    Até Sempre
    Carlos Clemente

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  3. Obrigado, Marco, pela sensibilidade.
    Um abraço.

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  4. Agradecido, senhor Clemente, pelo cuidado.
    Um grande abraço.

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  5. POEMA À MÂE
    No mais fundo de ti
    Eu sei que te traí, mãe.

    Tudo porque já não sou
    O menino adormecido
    No fundo dos teus olhos.

    Tudo porque ignoras
    Que há leitos onde o frio não se demora
    E noites rumorosas de águas matinais.

    Por isso, às vezes, as palavras que te digo
    São duras, mãe,
    E o nosso amor é infeliz.

    Tudo porque perdi as rosas brancas
    Que apertava junto ao coração
    No retrato da moldura.

    Se soubesses como ainda amo as rosas,
    Talvez não enchesses as horas de pesadelos.

    Mas tu esqueceste muita coisa;
    Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
    Que todo o meu corpo cresceu,
    E até o meu coração
    Ficou enorme, mãe!

    Olha - queres ouvir-me? -
    Às vezes ainda sou o menino
    Que adormeceu nos teus olhos;

    Ainda aperto contra o coração
    Rosas tão brancas
    Como as que tens na moldura;

    Ainda oiço a tua voz:
    Era uma vez uma princesa
    No meio do laranjal...

    Mas - tu sabes - a noite é enorme,
    E todo o meu corpo cresceu.
    Eu saí da moldura,
    Dei às aves os meus olhos a beber.

    Não me esqueci de nada, mãe.
    Guardo a tua voz dentro de mim.
    E deixo as rosas.

    Boa noite. Eu vou com as aves.

    Eugénio de Andrade

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  6. Sei quanto é doloroso ver partir os nossos pais, mas temos que encarar esta fase como uma parte das nossas vidas. Sentidos pesâmes. Um abraço
    Ana Soares

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  7. Lamento muito Luís. :-(
    Li no dia, mas não sabia como comentar e pensei em ligar, mas nunca sei o que dizer nestas alturas...

    Lindo poema de homenagem e aposto que ela morreu orgulhosa do filho!

    Beijos e abraços amigos à família toda.
    Sònia

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