Tudo começou há dois dias. O telefone preto, de baquelite, dos antigos, na nossa redacção retiniu. Quem atendeu foi o chefe, o Fernandes Quintans -não sei se conhecem, é um tipo “bacano”, só às vezes, quando lhe chega os azeites, é que se passa. Então, continuando, o Fernandes, naquela voz seca de todos os chefes, diz:
-Redacção do blogue “Questões Nacionais”, daqui fala o Quintans, com quem tenho o gosto de falar?
-…(Snif…snif…tum…tum…) –era uma pessoa a transpirar assim um pouco para o nervoso. “Tum, tum”, era o coração alvoraçado a bater. Notava-se perfeitamente que a pessoa do outro lado do fio estava nervosa)
-Está lá…ou não está? Interroga o Fernandes, já um bocado agastado e quase a deitar fumo pelas narinas.
Olhe lá eu tenho mais que fazer! Quer falar, ou não quer?
-Eu queria informar que a dona Altina está na América, junto de uma irmã. Coitada, sempre se fartou de trabalhar…cansou-se, e pirou-se daqui para fora!
E pimba! A voz enrouquecida desligou o telefone.
Imediatamente o Fernandes mandou um bip a toda a equipa –por causa dos custos, isto por aqui, financeiramente, está cada vez pior, ainda utilizamos o bip, sempre fica mais em conta que o telemóvel.
Veio então o Luís Fernandes, que é o director, veio o António Quintans, que é o director-adjunto, o António Fernandes, que é o director-executivo, e chamou-se o “Olho de Lince”, que é o nosso fotógrafo (dois em um) e jornalista para as questões internacionais.
Na mesa grande, ovalada, tomou a palavra o director Luís Fernandes:
-Meus senhores, recebemos uma chamada anónima a informar-nos de que a dona Altina, que desapareceu há mais de uma semana...estão a ver o caso?
-Aquela senhora do restaurante? Interrompe o director-adjunto.
-Ó homem, claro que é, então não se está a ver? Rasga o diálogo o director com voz timbrada de irritação.
Posso continuar? Posso?
Então é assim: vamos imediatamente sintonizar o nosso satélite espião, o “Questões Transcendentais” e tentar monitorizar a senhora. Quero um de vocês 24 horas agarrado ao ecrã do computador. Agora não façam como a PSP, nas câmaras de videovigilância da Baixa. Aqui quem manda sou eu. Não me tomem pelo presidente da autarquia…estão a ouvir?
Para além disso, o “Olho de Lince” apanha já um voo “low cost” para os Estados Unidos…que em princípio a senhora estará na zona de Nova Iorque. Ponham de lado todos os assaltos na Baixa e cancelem todas as entrevistas aos políticos. Quero o pessoal todo a investigar este caso.
E pronto, confesso que ainda não temos grandes dados. É certo que já recebemos alguns sinais do satélite, embora fracos, de que de facto é verdade. Tudo indica que (felizmente) a dona Altina estará mesmo nos Estados Unidos. Porém. Há uma coisa: isto é oficiosamente. Não é oficial. Ou seja, para todos os efeitos eu não sei de nada. Depois não me aconteça como o Sócrates, que passam a vida a acusá-lo de que ele sabia, mas fazia que não sabia. Não sei se estou a ser claro!
A verdade, diga-se, via internet, recebemos uma foto do “Olho de Lince”. Diz ele que é a dona Altina. Diz ainda, que, no momento em que estava a fotografá-la, a senhora puxou de um grande “pirete”. Claro que eu fiquei com muitas dúvidas. Primeiro, não me parece a dona Altina. Segundo, o “pirete” é para quem? Para Portugal? Para Coimbra? Para a vida de canseira que ela sempre levou? Será para mim? Se calhar…
Vamos aguardando notícias mais consubstanciadas, que, em boa verdade, isto parecem mesmo só boatos…
Como eu disse no dia que publicou um post sobre esta materia, que so comentava mais tarde, ai está a razão porque não comentei.Ai está a informação do seu satelite
ResponderEliminarPARVOICES!.BRINCANDO COM COISAS SÉRIAS?....
ResponderEliminarAmigo(a), este post pode ser perfeitamente entendido nesse sentido, no entanto há um esclarecimento que lhe devo: garantiram-me que, o que afirmo, é verdade. Ou seja, que a dona Altina, estava mesmo junto de uma irmã, no estrangeiro. Simplesmente, como me pediram o resguardo de tal informação, é óbvio, tive de arranjar a maneira de a dar. Por acaso, com franqueza, quando escrevi isto, pensei: e se não for verdade? Mas no fundo, torço muito para que o seja. Conheço a senhora Altina há muitos anos.
ResponderEliminarEntenda, portanto, este texto, não como um gozar com a infelicidade de outrem, mas como o manifestar de alegria. Oxalá seja verdade o que se retrata aqui, ainda que seja, se calhar, de uma forma pouco feliz. Faço votos para que quem me transmitiu a informação está certa.
Abraço e obrigado.